A PROPÓSITO
DAS MARCHAS DO CERCAL
As Marchas do Cercal 2013 deste ano estão na rua, para quem as quiser e puder ver, e ainda bem!, mas estiveram em risco, por desentendimentos entre pessoas.
Não tomo partido por nenhuma das partes, apenas porque não sei
quem tem razão, e porque desconfio que todos a tenham em parte e que ninguém a
tenha na totalidade. O tempo encarregar-se-á de despir eventuais fachadas e de
mostrar o que possam esconder.
Penso é que divergências e interesses pessoais não deveriam prejudicar
o interesse comum, a menos que assentem na constatação de irregularidades ou
ilegalidades, e nesse caso deveriam ter sido devidamente denunciadas nos locais
próprios.
Independentemente da natureza e das razões da contenda, vejo em
toda esta situação alguma intolerância, uma certa sobranceria, e umas boas
doses de umbiguismo exacerbado, maior que a Barragem de Campilhas!
Não pretendo dar lições a ninguém, mas penso que um bocadinho de
modéstia e humildade ficaria bem às partes em contencioso. Já deveriam saber
que só os cemitérios estão cheios de gente insubstituível, e que, por muito
importante que seja o contributo que possamos dar individualmente, a verdade é
que não conseguimos fazer nada destas coisas sozinhos; por mais qualidades que
tenhamos, os nossos defeitos deixam-nos longe da perfeição e aquém da
auto-suficiência: eu, pelo menos, não conheço nenhuma marcha só com uma pessoa,
seja ela quem for, homem ou mulher, nova ou velha, alta ou baixa, gorda ou
magra, presidente ou coreógrafa!
O Cercal precisa mais de quem construa do que de quem deite abaixo; precisa mais de esforço colectivo do que de D. Sebastiões. Portugal acreditou
um dia em D. Sebastião e deu-se mal!
O Cercal precisa do pensar positivo, do agir com verticalidade, do
debate com elevação, e não de pequenez disfarçada de liderança, feita mais de
palavras que de actos, mais pavão que formiga.
O Cercal não é uma pastilha elástica que se usa para dar nas
vistas a fazer balões e se deita fora quando já deu o que tinha a dar! E as
colectividades são demasiado relevantes, algumas com muita história! Não podem
ser peças de xadrez, nem troféus para coleccionadores de títulos.
Declaro aqui, com toda a clareza, que me recuso a ver na
realização das Marchas 2013 um qualquer tipo de retaliação, despeito ou
vingança relativamente seja a quem for ou ao que for.
Pela minha parte, enquanto autora da letra da Marcha, nada disso me moveu, move ou moverá. Não
agi nem contra nem a favor de uns ou de outros. E não consinto ser usada para
isso. Respeito ambas as partes, a ambas considero, e em ambas vejo grandes
qualidades, com provas dadas, e que têm sabido colocar ao serviço do bem comum.
Aceitei participar nas Marchas por
achar que a iniciativa merecia ter continuidade, pelo que representa para todos
os envolvidos, para os Bombeiros (uma instituição que vive as dificuldades que
todos sabemos) e para o Cercal, que de todos precisa.
Foram neste sentido as minhas breves palavras, na noite de
apresentação das Marchas, e parece-me que é também este o pensar da generalidade
dos marchantes.
Tive o privilégio de estar envolvida em algumas das maiores
iniciativas que a freguesia do Cercal alguma vez conheceu, e sei que elas só se
realizaram com o talento, o envolvimento e o contributo de muitíssima (mas
mesmo muitíssima!) gente, independentemente de terem sido idealizadas por um
pequeno grupo.
Somos uma grande terra, é certo, mas somo-lo na soma das nossas
diferentes valias e das nossas divergências! É justamente daí que vem a nossa
força!
Se algum dia estivermos todos inteiramente de acordo, estaremos
provavelmente muito mal...
Quantos mais e diferentes formos, maior é a nossa criatividade,
melhor é o produto do nosso esforço! E há muito talento no Cercal! É preciso
juntá-lo, valorizá-lo e não desperdiçá-lo, muito menos rejeitá-lo ou
desprezá-lo!
Tudo isto me deixa um pouco apreensiva, e preocupa-me ver gente
que se acha acima de todas as críticas, do mesmo modo que me assusta ver gente
com medo de criticar, que prefere calar-se a enfrentar as dificuldades do
debate de ideias, para não trilhar...porque...
A subserviência não é uma qualidade e não faz avançar o mundo. Só
alimenta egos, mas não está provado que o bem de um ego seja o bem comum.