A SITUAÇÃO
Santiago do Cacém assiste, nestes dias, a uma escalada do número de infectados pelo Covid19.Ao que parece, o município estará a ser "atacado" pelo surto com origem em Sines.
Enquanto o recente surto do Carvalhal não me mereceu senão um lamento, por partir de gente a trabalhar, já a origem do surto de Sines me suscita a maior indignação.
Tanto quanto me é possível saber, a situação a que chegámos resulta de comportamentos fúteis, evitáveis, egoístas e irresponsáveis.
Primeiro, vai-se num "passeio" a Espanha, do qual se traz, assintomaticamente, o vírus.
A seguir, participa-se num ajuntamento convivial, a pretexto da final da Liga dos Campeões.
Como se do lado de cá da fronteira não houvesse "passeio", e como se a dita Final não tivesse sido transmitida em sinal aberto e, portanto, acessível na segurança de casa.
Dir-me-ão os bons deste mundo:
a) ninguém contrai o vírus porque quer;
b) as pessoas não tinham sintomas, não sabiam que iam contagiar.
c) não devemos apontar o dedo a ninguém, porque a seguir podemos ser nós.
E é verdade, e eu concordo. Mas, acrescento:
a) sair de casa para "conviver" Num país diferente, numa altura destas, não é correr
voluntariamente um risco?
b) não ter sintomas e não saber se se está "contagioso" não é suficientemente dúbio para
que, preventivamente, se evitem contactos?
c) querer ser respeitado pelos outros não implica a obrigação de respeitar?
OS COMPORTAMENTOS
I - AS OPÇÕES DA MAIORIA DOS PORTUGUESES:
- Ficar meses em casa, com raras saídas, apenas essenciais.
- Prescindir de encontros com família, colegas e amigos.
- Prescindir de afectos e de contacto físico com familiares, amigos e próximos.
- Usar máscara e seguir escrupulosamente os conselhos da DGS.
- Respeitar as normas de confinamento e todas as restrições impostas.
- Respeitar a perigosidade do vírus; evitar o contágio e temer a propagação.
II - AS OPÇÕES DE ALGUNS "ARTISTAS":
- Fazer uma vida normal.
- Participar em convívios e festas, refeições e petiscos, com amigos e com quem calha.
- Não se privar de nada que dê prazer.
- Não usar máscara e ignorar os conselhos de higienização da DGS.
- Ignorar as normas de confinamento e as restrições impostas.
- Desvalorizar a perigosidade do vírus, menosprezar os perigos do contágio e ignorar a
propagação.
AS PERGUNTAS
Não estará na altura de cada um ser responsabilizado pelos seus actos e por lesar a sociedade com os seus comportamentos?
Não será de apresentar a estas criaturas as despesas resultantes da sua leviandade?
O REMATE
Eu também posso ser/estar contagiada. E posso contagiar outros. Qualquer um pode.Mas esforço-me para que não o venha a ser por irresponsabilidade ou leviandade!
E é deste desrespeito por todos os que cumprimos, e acatamos e tememos, que eu estou saturada.
Cansei-me de tolerar, de desculpar e de aceitar a estupidez alheia como natural.
Saturei-me de me resignar, como se as asneiras alheias fossem uma inevitabilidade.
Fartei-me de ter de arcar com as consequências, e calar.
Se foram estabelecidas multas, por que não se aplicam?
Se há proibições, por que não se exige o seu cumprimento?
Quem provoca um acidente rodoviário é responsabilizado e aplica-se-lhe uma pena.
Quem rouba um bem material, e é apanhado, é punido.
E a quem impunentemente rouba a saúde aos outros, o que acontece?
Nada, além de ter de lidar com a doença (que até lhe pode ser clemente e assintomática).
Ninguém é responsável pelo que imprudentemente causa aos outros?
Mas, então, quem assegura o pagamento das despesas (testes, cuidados de saúde, etc)?
Nós! Pagamos todos nós!
Alguns, com a vida.
Outros, com sequelas da doença.
A maioria, com as despesas do SNS (que defendo incondicionalmente).
Nota:
Por causa desta situação, fui de novo privada de visitar os meus pais no lar. Ou melhor, eles foram privados de visitas.
Quem tem um familiar ou um próximo num lar sabe o mal que desde Março atingiu os idosos, ainda que em Santiago os lares não tenham sido, felizmente e até agora, devastados pelo vírus. Mas os idosos são atacados pelas consequências de uma enorme (ainda maior) solidão.
Mais do que do Covid-19, os idosos e a maioria de nós somos vítimas de algumas atitudes. Sem essas, o vírus ver-se-ia aflito para encontrar hospedeiros.
Não quero saber quem está na origem deste surto (nem de nenhum outro), nem se conheço ou não. Não é a mim que compete identificar doentes infectados. Só me interessam na medida em que interferem com a minha própria vida, e a dos que me são queridos.
Não sei se alguma vez o Assobio me saiu tão estridente!
Refuto qualquer tentativa de associação entre esta revolta e um discurso populista.
Nem o populismo nem os seus protagonistas me merecem qualquer simpatia.
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