"Geração à Rasca - A Nossa Culpa"
História de uma publicação viral e de uma usurpação de autoria
A 09 de março de 2011 surgia, no meu anterior blogue "Assobio Rebelde", hoje Assobio-Rebelde.blogspot.com, o texto com o título entre aspas, em epígrafe.
Nessa época, o Assobio tinha muitos seguidores, o texto foi também divulgado no Facebook, e rapidamente se tornou viral, muito também graças à divulgação por mail.
"Geração à Rasca - a Nossa Culpa" era uma análise polémica aos factos, à época recentes, quando os jovens preparavam manifestações nacionais de protesto contra as condições que o país (não) lhes proporcionava. O texto original pode ser lido aqui.
De repente, sem que eu nada fizesse para que isso acontecesse, aquela prosa que escrevi e que eu mesma editei apareceu atribuída a Mia Couto.
Nessa época, o Assobio tinha muitos seguidores, o texto foi também divulgado no Facebook, e rapidamente se tornou viral, muito também graças à divulgação por mail.
"Geração à Rasca - a Nossa Culpa" era uma análise polémica aos factos, à época recentes, quando os jovens preparavam manifestações nacionais de protesto contra as condições que o país (não) lhes proporcionava. O texto original pode ser lido aqui.
De repente, sem que eu nada fizesse para que isso acontecesse, aquela prosa que escrevi e que eu mesma editei apareceu atribuída a Mia Couto.
Apercebi-me disso quando alguém me enviou o texto para o meu email, mas como sendo do moçambicano. Imagina-se a minha cara!
Nos dias seguintes, dediquei-me a procurar o texto na web. Encontrei-o publicado em dezenas de blogues (não estou a exagerar!). Encontrei-o reproduzido tal e qual. Encontrei-o com erros. Encontrei-o amputado. Até a primeira frase surgia quase sempre com um erro grave. Em vez de "Um dia isto tinha de acontecer", que eu escrevera, surgia "Um dia isto tinha que acontecer"...
Fiquei por não ter vida. Quanto mais vezes encontrava o texto, mais incomodada me sentia.
Dei-me ao trabalho de escrever comentários em todos os blogues onde o encontrei, deixando o link para o original, como no exemplo abaixo:
José Eduardo Agualusa, porta-voz de Mia Couto em Portugal, usou as redes sociais e a imprensa, logo a 18 de março de 2011, para dissociar Mia Couto do meu texto:
Nos dias seguintes, dediquei-me a procurar o texto na web. Encontrei-o publicado em dezenas de blogues (não estou a exagerar!). Encontrei-o reproduzido tal e qual. Encontrei-o com erros. Encontrei-o amputado. Até a primeira frase surgia quase sempre com um erro grave. Em vez de "Um dia isto tinha de acontecer", que eu escrevera, surgia "Um dia isto tinha que acontecer"...
Fiquei por não ter vida. Quanto mais vezes encontrava o texto, mais incomodada me sentia.
Dei-me ao trabalho de escrever comentários em todos os blogues onde o encontrei, deixando o link para o original, como no exemplo abaixo:
Alguns blogues reputados, como o De Rerum Natura, de Carlos Fiolhais, e o Fio de Prumo, de Helena Sacadura Cabral, que pensavam que tinham publicado Mia Couto, apressaram-se a rectificar a autoria.
O próprio Mia Couto deixou um comentário no Assobio Rebelde, a demarcar-se do texto!
O próprio Mia Couto deixou um comentário no Assobio Rebelde, a demarcar-se do texto!
José Eduardo Agualusa, porta-voz de Mia Couto em Portugal, usou as redes sociais e a imprensa, logo a 18 de março de 2011, para dissociar Mia Couto do meu texto:
No meu blogue, a 21 de março de 2011, insurgi-me contra o facto de estar a ser injustamente acusada de roubar a Mia Couto uma coisa que ele negava ter escrito.
Kafka teria gostado deste processo!
Apesar de todos estes esforços para repor a verdade, e contra a vontade dos dois lesados, a publicação continuou a surgir, atribuída ao escritor moçambicano.
Dois anos depois, em 2013, o texto continuava a aparecer, e na página oficial de Facebook do escritor, surgiu esta publicação:
O caso atingiu tais proporções que um dos primeiros blogues que em Portugal se dedicou à literacia digital, de seu nome "Sobre Literacia Digital" , se debruçou sobre o assunto, num longo e muito instrutivo post.
O editor do blogue, Ricardo Nuno Silva, utilizou o caso para fazer pedagogia sobre a necessidade de confirmarmos a autoria dos textos que se publicam nas redes sociais, e na web em geral, e para a necessidade de estarmos muito atentos ao surgimento (já naquela altura preocupante, e hoje ainda mais) de situações de usurpação de identidade.
Nesse post, o editor deu-se ao trabalho de recolher excertos de várias publicações relacionadas com a polémica.
É graças a ele que consegui recuperar o comentário que Mia Couto me deixou, no Assobio Rebelde:
Considero que estes dois casos demonstram quanto as redes sociais e a web nos tornam vulneráveis, e como podemos facilmente ser vítimas de má-fé e de intenções insondáveis, por parte de desconhecidos ou de quem menos esperamos.
Esta é a actual realidade das redes sociais, nuns casos por desconhecimento e iliteracia digital, noutros (os que nos devem, verdadeiramente preocupar!) por atropelo consciente e propositado aos mais elementares princípios de ética e de cidadania digital.
Por tudo isto, ponderei muito seriamente abandonar por completo as redes sociais.
Decidi, desde logo, que a minha presença num grupo em regime de responsabilidade partilhada tem os dias contados e data de enterro marcada.
Mas, individualmente, optei por resistir, ciente de que ninguém está protegido contra ataques e tentativas de vilipêndio.
É graças a ele que consegui recuperar o comentário que Mia Couto me deixou, no Assobio Rebelde:
Não julguem que esta situação não fez estragos.
Cheguei a ser insultada por chamar meu a um texto de Mia Couto...
Fui acusada de lhe ter propositadamente atribuído o meu texto para com isso conseguir projecção...
Infelizmente, pelas razões que expliquei aqui no blog, perdi todos os comentários às publicações originais da primeira edição (até 2013).
Escrevo sobre estas peripécias, em 2020, porque o devia a mim própria, e aos leitores do blogue. Os factos estão comprovados, são indesmentíveis, mas faltava esta retrospectiva.
Descobri, através deste caso, que um nome pode valer muito mais do que um texto! O texto era o meu, mas atribuído a Mia Couto, ganhou de facto mais valor para muita gente...
No entanto, não estou agradecida a quem o fez (continuo sem saber quem foi...) nem feliz por isso.
Foi-me possível, na altura, remontar à publicação original. Bastou abrir todos os links resultantes da busca no Google, e ver as datas em que apareceram publicados, para verificar que não havia nenhuma mais antiga que a minha. Não podia haver, visto que a minha era inédita!
Escrevo sobre este assunto, hoje, passados nove anos, também porque sinto que cada vez mais as redes sociais são uma selva onde tudo se rouba e tudo se (re)publica, sem respeito por autores e pela sua obra, seja ela textual, fotográfica, videográfica ou fonográfica.
As redes sociais são espaços onde, virtualmente, as pessoas fazem e dizem aquilo que não seriam capazes de fazer e dizer "olhos nos olhos", mas em que revelam a verdadeira essência do seu carácter, como se pode ver por um outro episódio em que me vi recentemente envolvida, de forma involuntária e a contragosto.
Um membro de um grupo de que sou co-administradora numa rede social acusou-me de ter suprimido uma sua recente publicação; depois de me insultar, e de tentar denegrir-me, abandonou o grupo, certamente consciente de que com esse abandono desapareceria toda a sua pegada digital, o que efectivamente acontece.
Felizmente, o Facebook regista automaticamente a acção dos administradores relativamente a todos os membros de um grupo. E eu já tinha acedido a todo o registo relacionado com o membro em questão, do qual fiz print-screens, com que pude comprovar a calúnia.
Cheguei a ser insultada por chamar meu a um texto de Mia Couto...
Fui acusada de lhe ter propositadamente atribuído o meu texto para com isso conseguir projecção...
Infelizmente, pelas razões que expliquei aqui no blog, perdi todos os comentários às publicações originais da primeira edição (até 2013).
Escrevo sobre estas peripécias, em 2020, porque o devia a mim própria, e aos leitores do blogue. Os factos estão comprovados, são indesmentíveis, mas faltava esta retrospectiva.
Descobri, através deste caso, que um nome pode valer muito mais do que um texto! O texto era o meu, mas atribuído a Mia Couto, ganhou de facto mais valor para muita gente...
No entanto, não estou agradecida a quem o fez (continuo sem saber quem foi...) nem feliz por isso.
Foi-me possível, na altura, remontar à publicação original. Bastou abrir todos os links resultantes da busca no Google, e ver as datas em que apareceram publicados, para verificar que não havia nenhuma mais antiga que a minha. Não podia haver, visto que a minha era inédita!
Escrevo sobre este assunto, hoje, passados nove anos, também porque sinto que cada vez mais as redes sociais são uma selva onde tudo se rouba e tudo se (re)publica, sem respeito por autores e pela sua obra, seja ela textual, fotográfica, videográfica ou fonográfica.
As redes sociais são espaços onde, virtualmente, as pessoas fazem e dizem aquilo que não seriam capazes de fazer e dizer "olhos nos olhos", mas em que revelam a verdadeira essência do seu carácter, como se pode ver por um outro episódio em que me vi recentemente envolvida, de forma involuntária e a contragosto.
Um membro de um grupo de que sou co-administradora numa rede social acusou-me de ter suprimido uma sua recente publicação; depois de me insultar, e de tentar denegrir-me, abandonou o grupo, certamente consciente de que com esse abandono desapareceria toda a sua pegada digital, o que efectivamente acontece.
Felizmente, o Facebook regista automaticamente a acção dos administradores relativamente a todos os membros de um grupo. E eu já tinha acedido a todo o registo relacionado com o membro em questão, do qual fiz print-screens, com que pude comprovar a calúnia.
A pessoa tentou mesmo envolver a acusação numa nebulosa, associando a inexistente eliminação de uma publicação recente à efectiva eliminação de publicações anteriores ao segundo semestre de 2019, altura em que eu não tinha actividade de administradora do grupo, pelo que as eliminações realizadas antes dessa data nunca me poderiam ser imputadas, como também ficou comprovado pelo registo do Facebook.
Nestas duas situações, em 2011 e em 2020, consegui provar, factualmente, a verticalidade com que estou na vida, tanto a digital como a de carne e osso.
Considero que estes dois casos demonstram quanto as redes sociais e a web nos tornam vulneráveis, e como podemos facilmente ser vítimas de má-fé e de intenções insondáveis, por parte de desconhecidos ou de quem menos esperamos.
Esta é a actual realidade das redes sociais, nuns casos por desconhecimento e iliteracia digital, noutros (os que nos devem, verdadeiramente preocupar!) por atropelo consciente e propositado aos mais elementares princípios de ética e de cidadania digital.
Por tudo isto, ponderei muito seriamente abandonar por completo as redes sociais.
Decidi, desde logo, que a minha presença num grupo em regime de responsabilidade partilhada tem os dias contados e data de enterro marcada.
Mas, individualmente, optei por resistir, ciente de que ninguém está protegido contra ataques e tentativas de vilipêndio.
Estou de novo, mesmo que fora de moda, na blogosfera.
Mantenho o meu perfil pessoal de Facebook e o meu canal de YouTube.
E talvez dê à rede outro projecto.
Continuarei, pois, tal como até agora, direitinha que nem um fuso, porque o que não me consegue calar torna-me ainda mais refilona.
Move-me a convicção de que não é fugindo desta torrente de lama que ela deixará de fazer estragos. É encarando-a de frente e, sempre que possível e necessário, denunciar-lhe as manhas, os abusos e as doenças de que enferma.
Dizem que "uma andorinha não faz a Primavera", mas o seu chilrear é único, e gosto de vê-la voar.
Não a troco por um céu povoado pela negritude de melros e corvos, por mais sonoro e afinado que pareça o seu grasnar.
Em 2020, faz ainda mais sentido para mim que o Assobio seja Rebelde.
Mantenho o meu perfil pessoal de Facebook e o meu canal de YouTube.
E talvez dê à rede outro projecto.
Continuarei, pois, tal como até agora, direitinha que nem um fuso, porque o que não me consegue calar torna-me ainda mais refilona.
Move-me a convicção de que não é fugindo desta torrente de lama que ela deixará de fazer estragos. É encarando-a de frente e, sempre que possível e necessário, denunciar-lhe as manhas, os abusos e as doenças de que enferma.
Dizem que "uma andorinha não faz a Primavera", mas o seu chilrear é único, e gosto de vê-la voar.
Não a troco por um céu povoado pela negritude de melros e corvos, por mais sonoro e afinado que pareça o seu grasnar.
Em 2020, faz ainda mais sentido para mim que o Assobio seja Rebelde.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Dê o seu Assobiozinho! Faça um comentário.