O assalto da extrema-direita ao Facebook
Desde há uns três meses, tenho pessoalmente recebido (e ignorado) pedidos de amizade de estranhos.
Como co-administradora de um grupo, também vejo muitos "desconhecidos" a pedir adesão, sem qualquer ligação aparente à temática do grupo ou a outros membros.
Por princípio, não aceitamos novos membros sem perceber minimamente quem são, através da informação disponível.
E o que se descobre sobre essa "pessoa"?
- tem um banal apelido português (como Jose Sousa), frequentemente inglês, às vezes de origem africana;
- apresenta uma residência no estrangeiro ou em Lisboa;
- tem fotografia de perfil, insuspeita, mas "roubada" (de um actor, de um modelo, ou roubada num site ou a outro perfil.
- tem pouquíssimos "amigos" ou mesmo nenhum;
- tem muito pouco ou nada publicado na sua página pessoal;
- é membro de dezenas, às vezes de mais de cem grupos.
Um pouco mais de atenção, e vemos que entre os muitos grupos de que é membro pode aparecer um ligado ao dito partido ou ao seu líder.
Nenhum destes falsos perfis foi aceite neste Grupo, mas, a avaliar pelos que já integram, entraram em muitos outros.
Ora eu não acredito que as centenas de grupos de Facebook que existem no nosso país estejam conscientemente a acolher adeptos do "Chega".
Então, porque é que isto acontece?
1. Muitos administradores de grupos são-no por carolice, e não têm tempo para exercer maior supervisão sobre o grupo, tarefa exigente e demorada, mas necessária, precisamente para controlar situações desta natureza.
2. Muitos administradores estão tão interessados em ver crescer o seu grupo que qualquer novo membro é bem vindo.
3. Há administradores de grupo que não têm suficiente domínio sobre as funcionalidades de gestão do grupo para poder usar e tirar partido de tudo o que têm ao seu dispor.
Por enquanto, estes perfis estão silenciosos. Não têm qualquer interacção com os grupos, nem um simples "Gosto" numa publicação.
E quando desatarem a publicar propaganda política nas centenas de grupos em que se infiltraram, e em que, como membros, são livres de publicar o que lhes apetecer?
Se e quando isso acontecer, os administradores vão ser ultrapassados pela onda de publicações e não conseguirão eliminá-las em tempo útil, a não ser que as submetam a aprovação prévia, coisa que, de boa-fé, a maior parte não faz.
A estratégia tem tanto de hábil quanto de repugnante.
Quem julgar que isto é coisa menor, redes sociais, que não interessa, e que não tem qualquer impacto na sociedade, engana-se.
Há centenas de grupos com largos milhares de membros que vão ser bombardeados com a mensagem política do Chega, a custo zero, e sem qualquer controle nem regras.
Os partidos políticos sabem bem a força e o impacto das redes sociais.
Não é por acaso que vão aparecendo grupos simpáticos e apelativos que, sob uma aparência insuspeita, escondem intenções político-partidárias, mantidas em segredo e que podem até nunca serem reveladas.
Surgem para que os seus mentores alcancem a popularidade, a proximidade e a credibilidade de que precisam (e que nunca conseguiriam de outra forma) para se apresentarem a eleições ou para promoverem candidaturas políticas.
Tudo isto faz com que equacione seriamente afastar-me deste universo em que, sob aparência de espontaneidade e de autenticidade, se escondem maquiavélicas intenções de promoção de interesses políticos e/ou pessoais.
E tudo isto me dá que pensar.
A vocês, não?...
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