As medidas anunciadas hoje pelo Primeiro Ministro aplicam-se, a partir de 04 de novembro, em 121 concelhos portugueses, e serão avaliadas a cada 15 dias.
31 outubro 2020
COVID-19 _ MEDIDAS EXCEPCIONAIS (04 NOV.) - LITORAL ALENTEJANO: QUANDO SE APLICAM?
13 outubro 2020
Três frases que me andam a encanitar
Não há palavras.
Querem ver que os iluminados autores dos diversos dicionários se esqueceram de incluir justamente aquela palavra que lhe fazia tanta falta na altura em que lhe puseram um microfone à frente. Agora ali está balbuciante, porque não há palavras para expressar a sua brilhante ideia.
Eu sou assim.
Ser assim ou assado é da natureza de cada um, até aqui tudo certo. Mas achar que isso por si só é bastante e legitima tudo já não me parece tão acertado.
No seu Tratado da Natureza Humana (1740), David Hume dizia "não é contrário à razão preferir a destruição do mundo inteiro a um arranhão no meu dedo" (tradução livre), resumindo assim a nossa tendência para o egoísmo primário, mas a empatia é um pilar importante da construção afectiva e social. Fazer tábua rasa disso deixa-nos alcandorados no nosso castelo de belas, porém curtas, vistas.
És lindo, tens um coração lindo.
Anatomicamente, pois talvez sim. De resto, não, não somos todos lindos nem temos todos um coração lindo. As nossas (boas?) intenções - as mesmas do "eu sou assim" - resvalam muitas vezes na curva da primeira adversidade do dia que ainda mal começou, e lá para as 23 horas já somos mais destroços do que obras de arte da natureza humana. É a vida a acontecer e dizerem-nos o contrário não ajuda à lucidez.
09 outubro 2020
Idosos, Lares e Covid-19: A nossa culpa
Os trapaceiros já esfregam as mãos de contentes, prontos para tirar o máximo proveito dos anunciados fundos comunitários; mas olham de lado para o aumento extraordinário de 10 euros numa pensão mensal de 275 euros.
A direita, como sempre, discorda de medidas sociais e de aumentos salariais por achar que agravavam as despesas do Estado e, preocupação maior, das empresas. Enquanto isso, Bloco de Esquerda, PCP e PS concretizam novo acordo orçamental em torno de emprego, subsídios, salários e pensões.
Entretanto, nos lares de idosos, não param os surtos de Covid-19... Os idosos não saem à rua, mas o vírus vai ter com eles.
Há lares que, entre março e junho, confinaram os seus funcionários em turnos contínuos, dias seguidos, para limitar ao máximo o contacto com o exterior. Reduziram ou eliminaram as actividades previstas, com o mesmo objectivo. E fazem o que podem para proteger os seus utentes. Para prevenir possíveis contágios, sujeitam qualquer um que saia para uma consulta de rotina ou uma urgência hospitalar a isolamento preventivo de catorze dias. Catorze intermináveis dias e noites, fechado num quarto, contactando esporadicamente e por curtos períodos com o funcionário que entra para lhe prestar assistência.
Os telemóveis, a que "toda a gente" recorreu para quebrar o isolamento, e que poderiam ser um precioso instrumento de contacto, não o são para todos, porque muitos idosos não os sabem manusear. Alguns lares promoveram videochamadas, com as limitações inerentes ao facto de para isso ser necessário recorrer à ajuda de um funcionário que tem mil coisas a fazer.
O país desconfinou em junho, mas os lares de idosos continuaram "confinados".
Sem os momentos privilegiados de contacto directo e presencial com familiares e/ou amigos, o quotidiano de um idoso institucionalizado tornou-se mais difícil e a sensação de abandono acentua-se e dói. Dói na alma e dói no corpo. E nestas condições o idoso fecha-se ainda mais sobre si mesmo.
Mesmo em tempos normais, os lares são parcos em actividades para atenuar o isolamento e a apatia (por exemplo, leitura, manualidades, jardinagem, utilização da Internet, actividade física e mental).
Ora a actividade física adequada ao idoso é importante para a sua qualidade de vida. A actividade física reforça o sistema imunitário, assim como apanhar sol anima o espírito e levanta a moral a uma pessoa. Mas um idoso numa cadeira de rodas, que estiver fisicamente impossibilitado de a manobrar, só apanha sol se o puserem ao sol.
Mesmo sem pandemia, isto é triste, injusto e indigno de um país que se quer desenvolvido e guiado por padrões europeus de qualidade de vida.
Correndo o risco de cair em injusta generalização, tentemos perceber a que se deve esta situação, e como se explica:
Por impedimentos laborais e profissionais, muitas famílias de idosos institucionalizados não conseguem acompanhar, por dentro, o funcionamento do lar e nem se apercebem do que é e de como é o quotidiano da instituição.
Muitos dos que conseguem estar mais de perto da vida do lar, quando se apercebem de algum problema de funcionamento ou de incumprimento contratual, inibem-se de reclamar (ainda que legitimamente) por medo de eventual retaliação sobre o mais fraco, ou seja, o idoso.
Alguns, descontentes com as contingências da vida que os forçaram a entregar um ente querido a estranhos, experimentam uma espécie de sentimento de culpa e, ainda que inconscientemente, adoptam mecanismos de auto-protecção, afastando-se, porque "olhos que não vêem, coração que não sente".
E também há quem "deposite" o idoso no lar e se limite a pagar a mensalidade, achando que está cumprida a sua obrigação e que não tem de se interessar ou preocupar por mais nada.
Porque a vida activa está muito ocupada a ser activa. A vida activa preocupa-se com o mais imediato. Preocupa-se com o trabalho, o salário, as contas, a casa, o carro, os filhos, o bem-estar, as férias (se puder...) e, eventualmente, um seguro de saúde, umas poupanças para um azar.
Os idosos nos lares não têm sindicatos, nem Confederações, nem Ordens, nem qualquer organização que os defenda. Não descem a Avenida da Liberdade em manifestações de protesto.
Além disso, os idosos não são fotogénicos nem telegénicos. A lentidão dos seus gestos, a debilidade da sua voz, o ritmo do seu discurso não são compatíveis com os timings televisivos, e não fazem disparar audiências.
Os idosos têm corpos deformados, múltiplas deficiências e dependências, e são pouco faladores. Até pode algum ser rezingão, quando entra num lar, mas rapidamente o menosprezam ou ignoram, e o reduzem à sua insignificância, fazendo-o perceber que "vozes de burro não chegam ao céu".
_ Eles inventaram isto [o vírus] para acabar com os velhos; não vês que os velhos só dão despesa...
Assobiadelas de Sucesso
- COVID-19 _ MEDIDAS EXCEPCIONAIS (04 NOV.) - LITORAL ALENTEJANO: QUANDO SE APLICAM?
- ERA UMA VEZ A ESCOLA..., CONTADA POR UMA VELHA QUE AOS 5 ANOS DECIDIU SER PROFESSORA
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