Não há palavras.
Querem ver que os iluminados autores dos diversos dicionários se esqueceram de incluir justamente aquela palavra que lhe fazia tanta falta na altura em que lhe puseram um microfone à frente. Agora ali está balbuciante, porque não há palavras para expressar a sua brilhante ideia.
Eu sou assim.
Ser assim ou assado é da natureza de cada um, até aqui tudo certo. Mas achar que isso por si só é bastante e legitima tudo já não me parece tão acertado.
No seu Tratado da Natureza Humana (1740), David Hume dizia "não é contrário à razão preferir a destruição do mundo inteiro a um arranhão no meu dedo" (tradução livre), resumindo assim a nossa tendência para o egoísmo primário, mas a empatia é um pilar importante da construção afectiva e social. Fazer tábua rasa disso deixa-nos alcandorados no nosso castelo de belas, porém curtas, vistas.
És lindo, tens um coração lindo.
Anatomicamente, pois talvez sim. De resto, não, não somos todos lindos nem temos todos um coração lindo. As nossas (boas?) intenções - as mesmas do "eu sou assim" - resvalam muitas vezes na curva da primeira adversidade do dia que ainda mal começou, e lá para as 23 horas já somos mais destroços do que obras de arte da natureza humana. É a vida a acontecer e dizerem-nos o contrário não ajuda à lucidez.
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