Ouvi há dias, creio que pela primeira vez, a palavra "pan-óptico" e lá fui fazer uma pesquisa para perceber melhor o que era.
Em traços largos, o Panóptico é um edifício-prisão idealizado por Jeremy Bentham (filósofo e jurista inglês) no século XVIII e consiste numa construção circular cujas celas têm uma janela para o exterior e uma porta para o pátio interior. No centro desse pátio situa-se uma torre de vigia a partir da qual um só guarda observa e controla todos os presos.
Parece fácil e barato, sobretudo em recursos humanos, mas não haverá muitos Panópticos no mundo porque a fase de construção é delicada e dispendiosa...
200 anos mais tarde, Michel Foucault (filósofo francês, entre outras coisas) transpõe o conceito de Bentham para a sociedade actual, ao falar de uma estrutura de controlo de acções em que medidas de vigilância invisíveis acabam por tornar o comportamento individual auto-controlado. Perante a omnipresente patrulha, cada sujeito tende a pôr-se nos eixos sozinho, assegurando o funcionamento automático do poder e das regras impostas.
Este é, claro, um resumo light do termo. Muito há para pensar em termos de todas as suas implicações na sociedade actual, por exemplo, ao nível do exercício de poder, da disciplina social e repressão e da perda de liberdades civis.
Só me lembrei disto porque, por estes dias, me sinto pan-óptica. Tenho em mim mesma a prisioneira e o guarda, vivo simultaneamente na cela e na torre de vigia.
Meio perdida entre as horas a que posso sair e aquelas a que devo regressar - e em que dias se aplica cada horário - sinto que a visibilidade se torna uma armadilha. O relógio é um bem de primeira necessidade, mais do que a comida, até porque perco a fome só de olhar para as filas do supermercado. Vou à varanda para arejar e logo me mando para dentro, se faz favor!
E pronto, agora vou até ali à sala dar mais uma voltinha.
P.S.: Portugal tem um dos poucos edifícios pan-ópticos do mundo. É o Pavilhão de Segurança do Hospital Psiquiátrico Miguel Bombarda, inaugurado em 1896 e destinado a doentes vindos da penitenciária.
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