Aconteceu de repente, sem perturbação.
De súbito, ela levantou-se: queria que eu a deixasse sair, que lhe marcasse falta, pouco importava; o importante era sair.Eu quis que ela continuasse na aula, sem lhe marcar falta; o importante era que não saísse.
Ela levantou-se e dirigiu-se à porta, insistente no desejo de ir embora.
Eu encostei-me à porta, pedindo-lhe para ficar. Não me apetecia sabê-la lá fora. Achava-a mais livre ficando na sala de aula.
A ela, não lhe interessava continuar ali dentro, no espaço de todos os limites. E continuava a pedir, a pedir, a pedir.
Protagonizámos um dos frente-a-frente mais caricatos e absurdos que alguma vez uma aula minha presenciou, ambas cordiais mas irredutíveis na teimosia, sem ceder, mas com respeito.
A aula prosseguiu, desajeitada, meio engasgada. Quando tocou para sair, ela ainda lá estava. De pé, como as árvores. E eu também, porta dialogante diante da porta muda, fechadura de alta segurança, mãe providência, gaja até fixe mas muiiiita chata.
Fiquei o resto do dia a assobiar baixinho e a lembrar-me de M., um aluno meio lunático, meio furor de Álvaro de Campos, que me disse uma vez que a minha paciência tinha limites próximos do infinito.
Amainou-me a recordação de um tempo em que os alunos sem favor iam às aulas, sem favor estudavam e sem favor até gostavam.
Apesar de tudo, acordarei amanhã e continuarei a gostar disto. É certo que assim será. Ainda que desgastantes, estas vivências têm o condão de me revigorar !
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