27 março 2007

Cinquentenário do Tratado de Roma: Onde fica a União Europeia?

Os europeus festejaram forte e feio o cinquentenário do Tratado de Roma.

Muitas capitais foram palco de grandes festejos, concertos de papillon ou festividades de ganga, espectáculos mais ou menos faustosos, vistos em directo pelos respectivos países, via tv.

As grandes cadeias de televisão europeias desfizeram-se em documentários, debates (sobre o passado e o futuro), cerimónias engravatadas.

Nós, por cá, vimos o telejornal, as telenovelas da ordem e a porcaria do costume.

Madrugada fora, escondidinha, para não atrapalhar o telelixo, a RTP2 transmitiu o espectáculo de Bruxelas...

Assim se afastam os portugueses da consciência europeia, e se atrofia o espírito de pertença a uma comunidade de 27 países.

Depois, admiram-se das taxas de abstenção nas eleições para Estrasburgo!

Somos tão felizes, assim pequeninos, assim sozinhos, lindos, lindos, lindos!

Deixem-nos estar aqui quietinhos, bonitinhos e sossegadinhos, a fazer a vontade a Salazar, como ostras ignorantes !

Lá longe, eles que se governem! - teimam alguns em desdenhar. Puro engano!

Lá longe, eles é que nos governam! Já deveríamos ter percebido isso há uns anitos...

21 março 2007

Férias Antecipadas

 Última semana de aulas, e vá saídas de desporto, provas de orientação, etc. e tal e mais qualquer coisa que se arranje.

Tudo aparece, menos os alunos nas aulas. Temos de lhes pedir, por favor, que arranjem uns minutos para fazerem a auto-avaliação.
Ficamos felizes por podermos entregar-lhes o teste em mão própria, se eles condescenderem em dedicar-nos alguns minutos com essa coisa de somenos que é receber um teste e pronunciar-se sobre a avaliação.
A nota até nem é importante e o futuro não passa por aqui, quanto mais não seja até à saída da pauta. Depois, logo se vê.
É a escola do prazer e da diversão, a funcionar no seu melhor.
Que importa que não se saiba nada? O que é preciso é ser feliz, fazer o que nos apetece!
No futuro, quem sabe, talvez até nos espere um lugar na televisão...

19 março 2007

Eficácia, Pertinência e Democracia

 Mandam reunir toda a gente e marcam a data e a hora.

Querem propostas!
A malta reúne, quarta à tarde, para apresentar propostas.
Reúne, à tarde, e discute, à tarde, e lá apresenta, pensa-se, contributos para A PROPOSTA FINAL da instituição.
Para quando? Para o dia seguinte?
Pois... (tosse e engasgo)
Acontece que, de manhã, a instituição já apresentara oficialmente às instâncias superiores a sua PROPOSTA OFICIAL, democraticamente proposta pelos responsáveis, depois de ouvidos os responsáveis e, naturalmente, com a concordância plena dos responsáveis!
Para que é que se reúne, se TUDO já está decidido?
(Agora, venham cá dizer-me que não somos uns palhaços...)

15 março 2007

Reciclagem para Múmias e Professores

Rompam a indiferença,

Evidenciem o descontentamento,

Cantem fúrias,

Indignem-se,

Construam alternativas,

Levantem-se,

Acreditem,

Galopem,

Enervem-se,

Mexam-se!

11 março 2007

Brindes e Promoções

Os iogurtes dão colheres.

A cerveja dá copos.

O detergente dá amaciador.

O Expresso dá filmes.

Os jornais diários dão música.

O Ministério da Educação dá choque.

07 março 2007

Realidade, Pesadelo e Prémio

Neste dias de pesadelo real e objectivo, o que fazer?

Uma proposta aos professores injustiçados, discriminados e marginalizados:

Se acharem que a vossa carreira não é apenas um retalho de registo biográfico, mas antes uma vida na escola, toca a concorrer ao Prémio de Excelência!


É "bombardear" o Ministério da Educação com currículos recheados de projectos, de trabalho real-concreto-objectivo-palpável com as turmas, com relatos de experiências pedagógicas, daquelas com alunos e tudo!

É afogar o discurso obsessivo da assiduidade no mar da pedagogia, da didáctica, do conhecimento e da entrega à escola e à profissão.

Mostremos quem tem realmente contribuído para o sucesso escolar.

Talvez assim quem legisla descubra alguma coisa sobre as escolas, lendo os relatos de vidas e não os retalhos de registos biográficos.


Ou será que o Prémio também só vai ser atribuído em função dos últimos sete anos de carreira?


06 março 2007

Indisciplina

 O Ministério da Educação anunciou revisão do Estatuto do Aluno do Ensino Não Secundário e desburocratização dos procedimentos que tornaram a expulsão de uma aula um castigo para o professor.

Os fenómenos responsáveis pela indisciplina vêm, em grande parte, de fora das escolas, e por isso não se resolve por decreto este problema.
A legislação em vigor retirou autoridade aos docentes porque os transformou nas principais vítimas do procedimento disciplinar, uma vez que recai sobre os seus ombros a panóplia de procedimentos a que não podem escapar (redigir participações, proceder a inquéritos, ouvir todas as partes, reunir, redigir relatórios, reunir... e continuar a cumprir todas as suas tarefas, como se nada se tivesse passado).
Esta perspectiva de se ver submerso num processo disciplinar "amaciou" os professores, criou neles uma tendência para relativizarem a gravidade das atitudes dos alunos, aceitando hoje o que era impensável ontem, ignorando ofensas, calando humilhações.
A pouco e pouco, este estado de coisas foi-se tornando o "pão-nosso-de-cada dia", e o que era uma situação pontual fez-se prática corrente.

Aparece ainda outro parceiro do processo, que são os pais, a quem é cada vez mais difícil educar, exercendo sobre os filhos a autoridade e a influência necessárias à sua formação e ao seu desenvolvimento; os próprios pais são (quantas vezes!) as primeiras vítimas dos jovens cidadãos que geraram; por arrogância, por cegueira ou por medo, tendem a desculpar/desculpabilizar, em vez de reconhecerem a possibilidade de que o jovem não seja perfeito, em vez de aceitarem que, perante o erro, a punição pode ser mais formativa/educativa do que a demissão ou o perdão.

Uma desgraça nunca vem só, e a isto se acrescenta o facto de os professores, enquanto adultos, estarem (eles próprios) muito mais permissivos em relação aos seus próprios filhos e, por extensão de comportamentos, arrastarem essa flexibilidade para a função docente, na qual projectam muitas vezes os seus próprios problemas enquanto educadores.

Com este cenário, não consigo estar muito optimista.
Receio que, mesmo com agilização de meios, a escola continue a degradar-se, os alunos continuem a ser mal-educadamente reis e senhores, os pais continuem a defender cegamente os seus jovens, e os professores continuem a achar que a culpa é de todos... menos deles.
Infelizmente, palpita-me que vou continuar a assobiar por muito tempo.

05 março 2007

Carreira Docente e Hibernação

O Inverno aproxima-se do fim, e deveria despertar o mundo.

Porque será, então, que me apetece hibernar, no mínimo, até aos 65 anos?

Porque será que, neste momento, aquilo que me interessa na escola é (quase) só o que se passa do lado de dentro da minha sala de aula, com os meus alunos (por sinal, a única coisa que não conta para nada, na "nova" vida de um professor)?

Porque será que se me instalou um sentimento de repugnância pela minha condição, um desdém pela minha própria carreira, uma impressão de imbecilidade, de inutilidade, de desperdício de mim, do meu tempo e da minha energia?

Estou a limar as arestas da minha rebeldia, e a interiorizar o meu perfil de estupidez natural; todos os dias aperfeiçoo a minha surdez e a minha mudez, e continuo à procura da descontracção total com que me hei-de livrar do meu orgulho próprio, da minha decência e da minha integridade. Já avisei as minhas entranhas: nada de doenças, que isso cai mal! E já ameacei a minha curiosidade intelectual: acabaram-se os banquetes formativos! Abstinência total!

É assim que me querem: pontual e assídua... seca e murcha, mas assídua?

Não pode ser! Não pode ser assim tão mau!

Esperemos por amanhã, a ver o que nos traz a negociação.

Ouvi dizer que o Sindicato dos Licenciados e o Pró Ordem estavam dispostos a assinar a proposta, assim, linda como ela está? Será verdade? Olha quem!!!...

04 março 2007

Poesia Popular Alentejana

 Tenho tosse no cabelo,

dor de dentes no cachaço,

amargam-me as sobrancelhas,

não vejo nada dum braço.

Anónimo

(Não me admirava nada que os professores se sentissem assim...).

01 março 2007

Comparação II - Assiduidade

Na China, os operários estão proibidos de faltar ao trabalho.

Se o fazem, perdem o emprego.

Os empresários colocam a assiduidade acima de tudo.

O Ministério da Educação andará a querer seguir este magnífico modelo de gestão de recursos?

Comparação I: Aniversários

 Ruy de Carvalho faz hoje 80 anos.

Dou-lhe os meus parabéns, digo-lhe que o aplaudo, porque ele é excelente.
Quando um dia morrer, ficará a fazer muita falta.
Desejo-lhe muitos anos de vida.

O Projecto de 1º Concurso de Acesso à Carreira de Professor Titular faz hoje 22 dias.
Não lhe dou os meus parabéns, digo-lhe que o apupo, porque ele é péssimo.
Se morrer hoje, ninguém dará pela sua falta.
Desejo-lhe um lindo enterro.

(Peço desculpa ao Ruy de Carvalho, por esta comparação).