06 março 2007

Indisciplina

 O Ministério da Educação anunciou revisão do Estatuto do Aluno do Ensino Não Secundário e desburocratização dos procedimentos que tornaram a expulsão de uma aula um castigo para o professor.

Os fenómenos responsáveis pela indisciplina vêm, em grande parte, de fora das escolas, e por isso não se resolve por decreto este problema.
A legislação em vigor retirou autoridade aos docentes porque os transformou nas principais vítimas do procedimento disciplinar, uma vez que recai sobre os seus ombros a panóplia de procedimentos a que não podem escapar (redigir participações, proceder a inquéritos, ouvir todas as partes, reunir, redigir relatórios, reunir... e continuar a cumprir todas as suas tarefas, como se nada se tivesse passado).
Esta perspectiva de se ver submerso num processo disciplinar "amaciou" os professores, criou neles uma tendência para relativizarem a gravidade das atitudes dos alunos, aceitando hoje o que era impensável ontem, ignorando ofensas, calando humilhações.
A pouco e pouco, este estado de coisas foi-se tornando o "pão-nosso-de-cada dia", e o que era uma situação pontual fez-se prática corrente.

Aparece ainda outro parceiro do processo, que são os pais, a quem é cada vez mais difícil educar, exercendo sobre os filhos a autoridade e a influência necessárias à sua formação e ao seu desenvolvimento; os próprios pais são (quantas vezes!) as primeiras vítimas dos jovens cidadãos que geraram; por arrogância, por cegueira ou por medo, tendem a desculpar/desculpabilizar, em vez de reconhecerem a possibilidade de que o jovem não seja perfeito, em vez de aceitarem que, perante o erro, a punição pode ser mais formativa/educativa do que a demissão ou o perdão.

Uma desgraça nunca vem só, e a isto se acrescenta o facto de os professores, enquanto adultos, estarem (eles próprios) muito mais permissivos em relação aos seus próprios filhos e, por extensão de comportamentos, arrastarem essa flexibilidade para a função docente, na qual projectam muitas vezes os seus próprios problemas enquanto educadores.

Com este cenário, não consigo estar muito optimista.
Receio que, mesmo com agilização de meios, a escola continue a degradar-se, os alunos continuem a ser mal-educadamente reis e senhores, os pais continuem a defender cegamente os seus jovens, e os professores continuem a achar que a culpa é de todos... menos deles.
Infelizmente, palpita-me que vou continuar a assobiar por muito tempo.

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