O Ministério da Educação anunciou revisão do Estatuto do Aluno do Ensino Não Secundário e desburocratização dos procedimentos que tornaram a expulsão de uma aula um castigo para o professor.
Os fenómenos responsáveis pela indisciplina vêm, em grande parte, de fora das escolas, e por isso não se resolve por decreto este problema.A legislação em vigor retirou autoridade aos docentes porque os transformou nas principais vítimas do procedimento disciplinar, uma vez que recai sobre os seus ombros a panóplia de procedimentos a que não podem escapar (redigir participações, proceder a inquéritos, ouvir todas as partes, reunir, redigir relatórios, reunir... e continuar a cumprir todas as suas tarefas, como se nada se tivesse passado).
Esta perspectiva de se ver submerso num processo disciplinar "amaciou" os professores, criou neles uma tendência para relativizarem a gravidade das atitudes dos alunos, aceitando hoje o que era impensável ontem, ignorando ofensas, calando humilhações.
A pouco e pouco, este estado de coisas foi-se tornando o "pão-nosso-de-cada dia", e o que era uma situação pontual fez-se prática corrente.
Aparece ainda outro parceiro do processo, que são os pais, a quem é cada vez mais difícil educar, exercendo sobre os filhos a autoridade e a influência necessárias à sua formação e ao seu desenvolvimento; os próprios pais são (quantas vezes!) as primeiras vítimas dos jovens cidadãos que geraram; por arrogância, por cegueira ou por medo, tendem a desculpar/desculpabilizar, em vez de reconhecerem a possibilidade de que o jovem não seja perfeito, em vez de aceitarem que, perante o erro, a punição pode ser mais formativa/educativa do que a demissão ou o perdão.
Uma desgraça nunca vem só, e a isto se acrescenta o facto de os professores, enquanto adultos, estarem (eles próprios) muito mais permissivos em relação aos seus próprios filhos e, por extensão de comportamentos, arrastarem essa flexibilidade para a função docente, na qual projectam muitas vezes os seus próprios problemas enquanto educadores.
Com este cenário, não consigo estar muito optimista.
Receio que, mesmo com agilização de meios, a escola continue a degradar-se, os alunos continuem a ser mal-educadamente reis e senhores, os pais continuem a defender cegamente os seus jovens, e os professores continuem a achar que a culpa é de todos... menos deles.
Infelizmente, palpita-me que vou continuar a assobiar por muito tempo.
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