28 julho 2020

Pingo Doce Chupista

PINGO-DOCE CHUPISTA


O Pingo-Doce mudou a sua sede para a Holanda, para não pagar ao Estado português os impostos sobre os lucros que os tugas lhe dão, ao comprar nas suas lojas.

O Pingo-Doce , "muito preocupado" com a miséria trazida pela pandemia, instalou caixas solidárias no exterior das suas lojas, para ajudar os necessitados, e a iniciativa teve honras de noticiário nas TVs.

Mas o Pingo-Doce instalou as ditas caixas sem nada.
Terão conteúdo, e ajudarão alguém que precise, se os clientes do Pingo-Doce, além das suas próprias compras, adquirirem ao Pingo-Doce mais alguma coisa para abastecer as caixas do Pingo-Doce - as solidárias e as outras.

Se quiser colocar um bem numa dessas caixas, o cidadão solidário paga do seu bolso para isso, dá lucro ao Pingo-Doce, e paga impostos no seu país, sobre tudo o que compra e tudo o que ganha.

Quanto ao Pingo-Doce, lucra quadruplamente, porque explora a solidariedade alheia, vende mais, tem publicidade gratuita à sua marca, e não paga impostos em Portugal.

Compreendo que, por comodidade ou conveniência, alguém faça compras no Pingo Doce.
De mim, o Pingo Doce não vê um cagagésimo de um cêntimo.

23 julho 2020

Memórias Cercalinas

Memórias cercalinas*

I - Os Rebuçados do Chaveiro

Teria eu uns três anos quando entrei pela primeira vez na taberna do Chaveiro, que era de um grande sportinguista.

À tardinha, o meu padrinho ia à venda dar dois dedos de conversa, e às vezes levava-me às cavalitas.

O Chaveiro tinha aqueles olhos escuros, doces como o sorriso que lhe arrebitava o bigode farfalhudo. Alegrava-se de me ver, e eu sentia-me bem-vinda.

Mas não demorava nada que não me perguntasse:

- Atão, és do Sporting ou do Benfica?

O meu padrinho, benfiquista ferrenho, tinha-me injectado benfiquismo como uma vacina, mas um rebuçado era um rebuçado, e para ganhá-lo era preciso agradar ao perguntador.

- Sou do Sporting...

- Assim é que é! O Benfica não presta!... Pega lá um rebuçado de melhadura! - e virava as costas ao balcão.

Os meus olhos viam o frasco de vidro a sair da prateleira, a tampa a girar, a mão a entrar pelo bocal, e por fim um rebuçado de bigode risonho a estender-se para mim.

Eu agradecia, ria-me, começava a desembrulhar o rebuçado, e dizia, matreirinha:

- Chaveiro... Eu sou do Benfica...

- Ah, marota, que já me enganaste! - respondia ele, fazendo-se zangado.

E era sempre a mesma cena, que acabava em gargalhada geral. Eu, na minha ingenuidade, convencida que o enganava. Ele, bondoso e divertido, a gozar aqueles segundos de felicidade por me obrigar a dizer que era do Sporting, sabendo-me benfiquista.

Na verdade, ganhávamos os dois, naquela cumplicidade. E eu adorava-o!

Mesmo já adulta, e o Chaveiro muito mais velho, sempre que nos víamos nos alegrávamos, e acho que os dois nos lembrávamos das cenas do rebuçado.


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* Memória Cercalina = Recordação de vivências em Cercal do Alentejo

16 julho 2020

Estranhezas & Bizarrias

Estranhezas & Bizarrias

Santiago do Cacém, Covid e Espectáculos


Vila Nova de Sto André comemora no próximo fim-de-semana o seu aniversário, com um espectáculo de Rita Guerra, no Auditório da Escola Sec. Padre António Macedo, naquela cidade, organizado pelo município.

No fim-de-semana seguinte, será Santiago do Cacém a celebrar o Dia do Município com 2 concertos de Marco Rodrigues, no Auditório Munic. António Chaínho.

Vão ser quatro apresentações em pequenos auditórios, para "meia dúzia" de pessoas, cumpridas as regras de lotação de espaços fechados em tempo de pandemia.

Entretanto... no próximo fim de semana haverá em Santiago do Cacém um "Convívio de Verão", ao ar livre, num Parque do Município, organizado pelo partido maioritário na autarquia, que não há-de ter só 10 ou 20 pessoas.

Não percebo nem a lógica nem a coerência, nem nada...

Entretanto... no próximo fim de semana haverá em Santiago do Cacém um "Convívio de Verão", ao ar livre, num Parque do Município, organizado pelo partido maioritário na autarquia, que não há-de ter só 10 ou 20 pessoas.

Não percebo nem a lógica nem a coerência, nem nada...

13 julho 2020

Fernando Pessoa Leiloado

PESSOA LEILOADO,
OU A PENÚRIA DA CULTURA


Escrivaninha e óculos de Fernando Pessoa comprados em leilão pelo Museu do Pão. 

Está certo. 

Pessoa foi o maior padeiro português, conhecido por inventar o pão poético amassado a 8 mãos.

Solidariedade vs Caridadezinha

Solidariedade vs Caridadezinha


"Milionários pela Humanidade" pedem aos governos do mundo que lhes aumentem os impostos sobre as fortunas, porque acham que os problemas causados pelo Covid-19 não se resolvem com caridade.

Não interessa agora discutir quanto já beneficiaram dessa brandura dos Estados.
Quando são os mais ricos a exigir que os obriguem a pagar mais, algo de muito estranho se passa nas políticas fiscais.
E o que pensarão disto Madre Isabel Jonet dos Pobrezinhos e São Marcelo dos Coitadinhos?

12 julho 2020

Rita Rato e o Museu do Aljube

Rita Rato e o Museu do Aljube
Competências ou Influências? 


Não conheço os meandros da escolha de Rita Rato para o Museu do Aljube, pelo que não me pronuncio sobre ela.

Em cargos de confiança política, acho normal que se escolham pessoas ideologicamente "coincidentes".
Já nos cargos em que se deveria privilegiar competência, conhecimento, qualificações, a nomeação só por simpatias partidárias e amiguismo é injustificável.

Excluindo autarquias, o PCP, "acusado" neste caso, deve ser dos partidos com menos telhados de vidro em nomeações. Mas tem-nos, como os outros.

Infelizmente, onde há poder, aparecem jobs for the boys.

Acho que é uma das causas do descrédito da política no nosso país, e uma triste realidade com décadas, que não muda, porque cada partido só reclama quando não é ele o visado.

07 julho 2020

As Aspas e as Citações

EXPRESSO QUE FOSTE, IMPRESSO QUE ÉS


O Expresso já foi para mim um jornal de referência... 
Ainda mais quando fiquei órfã de "O Jornal".

Gradualmente, foi-se tornando num saco de plástico cheio de papel, com um jornal no meio.

Deixei de alimentar o vício de comprá-lo; na verdade, já era mesmo só um vício, porque pouco lhe encontrava que ler.

Depois... Era uma vez um jornal de referência...

Actualmente, o Expresso até perdeu o seu cuidado na revisão. Parece que já não têm ninguém para ler os textos antes de os publicarem...

O Expresso online coloca uma frase entre aspas, atribuindo-a a Teresa Calçada, e remete-nos para o vídeo com as declarações da comissária do PNL - Plano Nacional de Leitura.

Acontece que, em momento algum, Teresa Calçada defende que o ensino entre em choque com a sociedade, como pode ouvir-se, no vídeo da entrevista:



Infelizmente, já não estranho muito que um jornalista não saiba a diferença entre "ir ao encontro de" e "ir de encontro a". Mas aqui essa ignorância atropela a verdade.

Nem Teresa Calçada nem a língua portuguesa nem os leitores merecem este tratamento.

No "novo" jornalismo de referência, citar deixou de ser reproduzir fielmente o que alguém disse?
E as aspas perderam a dignidade?
Já não há quem saiba português, a sério, naquela redacção?