30 junho 2010

Vamos para Casa, Descansar - Take II, por QI Baixo

Vamos para Casa, Descansar - Take II


Queiroz (afinal é com z...) diz hoje num jornal desportivo:

"Quando eu digo que um jogador está cansado, é porque está cansado. Não brinquem com a minha honra".

Faz lembrar um sketch velhinho do Herman José, em que a mãe dizia "Ó filho, não faças esforços, olha a tua hérnia!", o filho respondia "Ó mãe, mas eu não tenho nenhuma hérnia..." e a mãe encerrava o assunto dizendo "Mas hás de ter, meu filho, hás de ter!"

Fica, assim, explicado preto no branco que o treinador tem sempre razão.

Hugo Almeida que se ponha a pau!


28 junho 2010

A Pilar, Provavelmente do Mar (texto por QI Baixo)

Saramago já não está. Levou consigo todas as palavras, pôs no seu lugar a saudade e deixou-nos a alternativa de relê-las até à exaustão.

Agora pensemos, em exercício que só pode ser de imaginação: se a nós as suas palavras fazem falta, o que não sentirá Pilar del Rio, companheira de duas décadas, cúmplice no tecer dessas palavras, musa inspiradora, amiga, amante, no fundo companheira de uma vida, mesmo antes de Saramago a ter conhecido, porque por vezes assim é no amor ainda que o conheçamos tarde.

A Pilar fazem falta não só as palavras que Saramago também partilhou connosco, mas sobretudo aquelas que só a ela dedicava. Fazem-lhe falta os gestos e as rotinas. Faz-lhe falta a ternura e cumplicidade do olhar, a serenidade da companhia de uma presença que, adivinhando-se poder ser silenciosa, imagina-se plena de intimidade.

Saramago estará, provavelmente, a contemplá-la do mesmo mar que tantas vezes contemplaram juntos. Segui-la-à à distância, guardá-la-à de todos os males e guardará para sempre o seu amor.

Pelo menos Pilar parece estar certa dessa presença - só isso pode justificar a absoluta certeza e infindo desamparo do seu sorriso.

23 junho 2010

A Senhora Minha Mãe (texto por QI Baixo)

Nasceu assim como hoje, mas há 67 anos.

Foi pequenina no Alentejo; em família de muitos irmãos, não se lembra do pai que perdeu cedo, mas recorda a mão e a vontade férrea da mãe - "trabalho de moço é pouco, quem não o aproveita é louco".

De lá, revive também as festas em que a matriarca juntava a família e os vizinhos e nas quais tinha por tarefa dar corda à grafonola, porque era demasiado envergonhada para participar do resto.

Moça, veio para Lisboa arranjar trabalho. Aguardava-a a linha de montagem na fábrica, onde anos mais tarde, já mãe, fez dois dias de greve de braços caídos por achar que injustamente lhe tinham retirado o cargo de coordenadora que tanto lhe custara a alcançar.

Mãe, ela agora também, fez jura de dar às filhas as oportunidades que ela não teve e trabalhou ainda mais na fábrica. Quando a linha de montagem fechou, trabalhou naquilo que a vida lhe ofereceu - costura, crianças, trabalhos domésticos.

Já avó, continua a educar, a entregar-se, a abdicar, a ser farol para um navio cujo leme tão bem conhece.

Casada, ampara agora na doença o companheiro que nem sempre teve presente na saúde.

Nasceu há 67 anos. Pelo que fica dito, bem sei que podia ser a mãe de muitos de nós, mas é a Senhora minha Mãe.

22 junho 2010

Restos e Complexos

RESTOS E COMPLEXOS


Hoje jantámos na escola os "restos" do concorrido jantar de ontem - quilos de carne, litros de bebidas, tabuleiros de sobremesas e cestas de fruta. Na ânsia de que nada nos faltasse, não percebemos que comemos todos bastante pouco e que bebemos ainda muito menos... Mais olhos que barriga, dizem os antigos.

Consequência: do convívio programado para 60 pessoas ontem nasceu este, de hoje, que não estava no programa, e como ainda não foi desta que demos conta do espólio adquirido, agendou-se ( para data a fixar) uma sardinhada com que se há-de acabar de consumir o que ficou por gastar.

Faltaram ontem todos os que não vieram. O que os impediu de vir? Tudo, certamente, e certamente excelentes razões, como o cansaço, o muitíssimo trabalho (resmas de exames nacionais- a minha escola foi atacada!!! - o não desejar conviver com os outros, o não querer passar nem mais um minuto na escola, o fugir de um prato sujo a sete pés.

Estiveram os que não faltaram e faltaram os que não apareceram! A vida faz-se com os que estão, e com o que temos! Bem hajam os que vieram! Por mim, sempre gostei de participar nas jantaradas e almoçaradas organizadas na escola ou fora dela, mas a pretexto dela. Estivemos em festa, pá! Fico contente!

21 junho 2010

O C Diferente (Texto por QI Baixo)

Celebra-se o regresso do Assobio e da sua directora, ainda que em sã partilha com a escola de que tanto gosta.

Sem cê, porque assim o quer o acordo ortográfico (já agora, permitem-me que o ignore? é que ainda não tenho ferramentas actualizadas para o efeito...), mas nem por isso menos convicta, ou menos construtiva, nem por isso a contragosto, embora por vezes, talvez, a contramaré.

Com cê, para mim, seguramente de coragem, de carácter, de capitania, daqueles cês que são o nosso impermeável no Inverno, e nos aconchegam no Outono, para despontarem em carmim na Primavera e connosco fazerem a maré de Verão.

Mazel Tov, Assobio!!

O sabor do Ketchup

O SABOR DO KETCHUP

O Assobio saúda efusivamente o regresso simultâneo do QI Baixo.  E logo a cascar no ketchup e a chamar a atenção para a mostarda que ainda nos pode subir ao nariz! É assim mesmo!

Quanto à mensagem em hebraico, e porque me apetece e quero acreditar que Saramago levou mesmo consigo as palavras (quase todas), só posso responder com Vinicius: Saravá!, minha irmã.

A Regra do Molho (Texto por QI Baixo)

 Para quem viu, e também para quem ouviu falar, digam lá que não foi bonito os 7 a 0?

Afinal, a regra do Ronaldo tinha razão : os golos são como o ketchup, vêm todos de uma vez!

Deixa ver se contra o Brasil não vem de lá mostarda... assim bem verde a amarelinha...

PS: 'Tou com pena dos homens da Coreia. Ouvi dizer que as famílias já estão a ser torturadas.

19 junho 2010

A Diferença do C

O SABOR DO C

Estou de volta.
Sem Saramago, traz-se-me um outono à chegada do verão.
Tenho andado ausente, e está a fazer um ano que mudei de vida.

Entre Julho de 2009 e este junho não há apenas a distância de um agora inevitável, incontornável acordo ortográfico; há um primeiro ano de mandato vivido com muito entusiasmo, grandes alegrias, fantásticos momentos, situações difíceis e dias cansados.

Nestes meses, entre um sem-fim de almoços inexistentes ou tardios, malpassados, e dezenas de jantares a pão de leite com manteiga ou croissant com fiambre, há um ror de dias de escola que começam às 8 da manhã e só acabam para o lado da meia-noite, como se a casa servisse só para dormir.

Há um cargo que se construiu sobre o que estava por fazer e o que era preciso desfazer, aproveitando ainda as ruínas do que valia a pena, e tecendo, tecendo sempre, dia e noite, a formigar na construção de um projecto em que não adiantaria querer que os outros acreditassem, se não fosse - se não quisesse - ser eu a primeira a entregar-me.

De Julho de 2009 para cá, há uma equipa que me acompanha, fantástica no seu labor, na sua dedicação e no seu apoio, e há muitos professores, grandes profissionais, protagonistas do fazer todos os dias o prestígio da nossa escola.
Mas desde Julho há também uma família próxima mais só, e a família grande mais distante.

Há os amigos que vejo menos.

Há menos concertos, menos cinema, menos teatro. Há menos mar, menos livros, menos música, menos descanso, menos qualidade de vida.

Há a tese que não se escreve sozinha.

Tudo acontece ou não acontece em nome de qualquer coisa, qualquer coisa tão importante - projecto, profissão, carreira, educação, ensino, escola, destino, missão, determinação, teimosia - qualquer coisa que me impele, me empurra todos os dias e me manda ser serva às ordens de mim, convencida de que estarei pelo menos a contribuir para mudar alguma coisa, mesmo que não possa mudar o mundo.

E, ainda que eu não tenha conseguido mudar nada, a verdade é que muita coisa mudou.

Por exemplo, a mando do acordo ortográfico, passei de directora a diretora.
Não acho graça que me tenha desaparecido o cê daquele sítio.
Um cê ali, no sítio certo, não faz mal a ninguém, ninguém dá por ele.
Um cê que se mexe para sítio errado pode tornar-se um chato, e mudar a vida a uma pessoa.

O verão vem quente, já estou mesmo a ver.

Mas haverá diplomas de 12º ano que eu quero entregar em setembro aos meus meninos, e levar-lhes de novo Saramago ou Eça ou Mia Couto ou Sophia; e quero comer castanhas assadas no outono, e rabanadas no inverno, e vou pedir desejos com passas em janeiro, para poder celebrar a vida em março, e ter de novo um cravo em abril, e sentir bater o coração em maio, para chegar de novo a junho, e a julho, e estar lá, a meio de um mandato de directora, sem cê, pois então!