28 junho 2010

A Pilar, Provavelmente do Mar (texto por QI Baixo)

Saramago já não está. Levou consigo todas as palavras, pôs no seu lugar a saudade e deixou-nos a alternativa de relê-las até à exaustão.

Agora pensemos, em exercício que só pode ser de imaginação: se a nós as suas palavras fazem falta, o que não sentirá Pilar del Rio, companheira de duas décadas, cúmplice no tecer dessas palavras, musa inspiradora, amiga, amante, no fundo companheira de uma vida, mesmo antes de Saramago a ter conhecido, porque por vezes assim é no amor ainda que o conheçamos tarde.

A Pilar fazem falta não só as palavras que Saramago também partilhou connosco, mas sobretudo aquelas que só a ela dedicava. Fazem-lhe falta os gestos e as rotinas. Faz-lhe falta a ternura e cumplicidade do olhar, a serenidade da companhia de uma presença que, adivinhando-se poder ser silenciosa, imagina-se plena de intimidade.

Saramago estará, provavelmente, a contemplá-la do mesmo mar que tantas vezes contemplaram juntos. Segui-la-à à distância, guardá-la-à de todos os males e guardará para sempre o seu amor.

Pelo menos Pilar parece estar certa dessa presença - só isso pode justificar a absoluta certeza e infindo desamparo do seu sorriso.

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