Nasceu assim como hoje, mas há 67 anos.
Foi pequenina no Alentejo; em família de muitos irmãos, não se lembra do pai que perdeu cedo, mas recorda a mão e a vontade férrea da mãe - "trabalho de moço é pouco, quem não o aproveita é louco".
De lá, revive também as festas em que a matriarca juntava a família e os vizinhos e nas quais tinha por tarefa dar corda à grafonola, porque era demasiado envergonhada para participar do resto.
Moça, veio para Lisboa arranjar trabalho. Aguardava-a a linha de montagem na fábrica, onde anos mais tarde, já mãe, fez dois dias de greve de braços caídos por achar que injustamente lhe tinham retirado o cargo de coordenadora que tanto lhe custara a alcançar.
Mãe, ela agora também, fez jura de dar às filhas as oportunidades que ela não teve e trabalhou ainda mais na fábrica. Quando a linha de montagem fechou, trabalhou naquilo que a vida lhe ofereceu - costura, crianças, trabalhos domésticos.
Já avó, continua a educar, a entregar-se, a abdicar, a ser farol para um navio cujo leme tão bem conhece.
Casada, ampara agora na doença o companheiro que nem sempre teve presente na saúde.
Nasceu há 67 anos. Pelo que fica dito, bem sei que podia ser a mãe de muitos de nós, mas é a Senhora minha Mãe.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Dê o seu Assobiozinho! Faça um comentário.