17 julho 2006

Alma Cheia

 Tenho a alma cheia do reencontro com tantos colegas de curso.

Já cá cantam 22 jantares anuais!
Todos estamos pelo menos quarentões; temos filhos, alguns netos e cabelos brancos mais ou menos disfarçados.
Seguimos rotas separadas ou trilhos semelhantes, espalhados por este país ou por outros, mas quando ficamos juntos, neste mês de Julho, uma vez por ano, somos outra vez cúmplices, como se tivesse sido ontem...

O que nos uniu? O que nos une, ainda, passado tanto tempo?

- As noites inteiras passadas à porta da Faculdade, para inscrições no início de cada ano lectivo;
- Um espírito livre, de malta que gostava descontraidamente do que andava a estudar!
- Um princípio básico de solidariedade, em que nos reuníamos muitos para fazermos juntos os diferentes trabalhos em grupo e nos entretínhamos a dar sugestões uns aos outros e a compartilhar as "tiradas" que nos iam saindo.
- Um companheirismo que se estava nas tintas para a competição, e em que cada um fazia o melhor que podia, sem passar por cima de ninguém.
- A partilha de horas e horas de trabalho e de divertimento: idas colectivas ao cinema, directas laborais em casa de uns e de outros, tardes de tagarelice na relva, manhãs de mergulho nos livros, refeições delirantes na cantina, distribuição metódica de tarefas de leitura ou grandes jogatinas de dados... e etc e tal...
- O privilégio de termos sido alunos de grandes mestres: David Mourão Ferreira, Mário Dionísio, Lindley Cintra, Urbano Tavares Rodrigues, Maria de Lourdes Cortez, Maria Alzira Seixo, Maria Helena Mateus, Ivo de Castro, Maria de Lurdes Belchior...
- A memória de um quotidiano chorado ou rido, sofrido ou cantado, a multiplicar por uns trinta mânfios que foram criando laços que se entrelaçaram com outros laços.

Eram demasiadas coisas em comum para que nos separássemos para sempre, no final do curso.
Este nosso encontro anual resiste às vicissitudes individuais, aos acidentes de percurso e às complicações existenciais porque o que vivemos foi demasiado bom para ser esquecido. Falhando um ou outro, um ano aqui outro ali, Julho é sempre de 1980 a 1984!

Nós, que rejeitámos praxes, trajes académicos, queimas de fitas e toda a panóplia de iniciativas com que hoje se mascara e embriaga um suposto espírito estudantil que já quase ninguém sabe o que é, nós que não quisemos rituais, mantemos religiosamente o nosso ritual.
Para o ano há mais, malta!

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