30 novembro 2020

Pan-óptico

Ouvi há dias, creio que pela primeira vez, a palavra "pan-óptico" e lá fui fazer uma pesquisa para perceber melhor o que era.

Em traços largos, o Panóptico é um edifício-prisão idealizado por Jeremy Bentham (filósofo e jurista inglês) no século XVIII e consiste numa construção circular cujas celas têm uma janela para o exterior e uma porta para o pátio interior. No centro desse pátio situa-se uma torre de vigia a partir da qual um só guarda observa e controla todos os presos.

Parece fácil e barato, sobretudo em recursos humanos, mas não haverá muitos Panópticos no mundo porque a fase de construção é delicada e dispendiosa...

200 anos mais tarde, Michel Foucault (filósofo francês, entre outras coisas) transpõe o conceito de Bentham para a sociedade actual, ao falar de uma estrutura de controlo de acções em que medidas de vigilância invisíveis acabam por tornar o comportamento individual auto-controlado. Perante a omnipresente patrulha, cada sujeito tende a pôr-se nos eixos sozinho, assegurando o funcionamento automático do poder e das regras impostas.

Este é, claro, um resumo light do termo. Muito há para pensar em termos de todas as suas implicações na sociedade actual, por exemplo, ao nível do exercício de poder, da disciplina social e repressão e da perda de liberdades civis. 

Só me lembrei disto porque, por estes dias, me sinto pan-óptica. Tenho em mim mesma a prisioneira e o guarda, vivo simultaneamente na cela e na torre de vigia.

Meio perdida entre as horas a que posso sair e aquelas a que devo regressar - e em que dias se aplica cada horário - sinto que a visibilidade se torna uma armadilha. O relógio é um bem de primeira necessidade, mais do que a comida, até porque perco a fome só de olhar para as filas do supermercado. Vou à varanda para arejar e logo me mando para dentro, se faz favor!

E pronto, agora vou até ali à sala dar mais uma voltinha.

P.S.: Portugal tem um dos poucos edifícios pan-ópticos do mundo. É o Pavilhão de Segurança do Hospital Psiquiátrico Miguel Bombarda, inaugurado em 1896 e destinado a doentes vindos da penitenciária.

31 outubro 2020

COVID-19 _ MEDIDAS EXCEPCIONAIS (04 NOV.) - LITORAL ALENTEJANO: QUANDO SE APLICAM?

As medidas anunciadas hoje pelo Primeiro Ministro aplicam-se, a partir de 04 de novembro, em 121 concelhos portugueses, e serão avaliadas a cada 15 dias.

As mesmas medidas aplicar-se-ão em qualquer outro concelho desde que atinja mais de 240 infectados por cada 100 000 habitantes.

Nos concelhos do litoral alentejano, quantos infectados tem de haver, para que estas medidas se apliquem?
Fizemos as contas usando os dados do último recenseamento da população, o Censos 2011.

Nota: Em Sines e em Alcácer do Sal, a medida entra em vigor já no dia 04/nov.

Encontre a resposta na infografia abaixo:





13 outubro 2020

Três frases que me andam a encanitar

Não há palavras.

Querem ver que os iluminados autores dos diversos dicionários se esqueceram de incluir justamente aquela palavra que lhe fazia tanta falta na altura em que lhe puseram um microfone à frente. Agora ali está balbuciante, porque não há palavras para expressar a sua brilhante ideia.


Eu sou assim.

Ser assim ou assado é da natureza de cada um, até aqui tudo certo. Mas achar que isso por si só é bastante e legitima tudo já não me parece tão acertado.

No seu Tratado da Natureza Humana (1740), David Hume dizia "não é contrário à razão preferir a destruição do mundo inteiro a um arranhão no meu dedo" (tradução livre), resumindo assim a nossa tendência para o egoísmo primário, mas a empatia é um pilar importante da construção afectiva e social. Fazer tábua rasa disso deixa-nos alcandorados no nosso castelo de belas, porém curtas, vistas.


És lindo, tens um coração lindo.

Anatomicamente, pois talvez sim. De resto, não, não somos todos lindos nem temos todos um coração lindo. As nossas (boas?) intenções - as mesmas do "eu sou assim" - resvalam muitas vezes na curva da primeira adversidade do dia que ainda mal começou, e lá para as 23 horas já somos mais destroços do que obras de arte da natureza humana. É a vida a acontecer e dizerem-nos o contrário não ajuda à lucidez. 

09 outubro 2020

Idosos, Lares e Covid-19: A nossa culpa

Portugal pandémico, outubro de 2020.
O número de infectados por Covid-19 aumenta diariamente, há milhares de famílias em dificuldade extrema, mas a Federação Portuguesa de Futebol prepara uma dispendiosa candidatura com Espanha ao supérfluo e dispensável Mundial de 2030.
Os trapaceiros já esfregam as mãos de contentes, prontos para tirar o máximo proveito dos anunciados fundos comunitários; mas olham de lado para o aumento extraordinário de 10 euros numa pensão mensal de 275 euros.
A direita, como sempre, discorda de medidas sociais e de aumentos salariais por achar que agravavam as despesas do Estado e, preocupação maior, das empresas. Enquanto isso, Bloco de Esquerda, PCP e PS concretizam novo acordo orçamental em torno de emprego, subsídios, salários e pensões. 
As centrais sindicais agitam reivindicações. Médicos, Enfermeiros e respectivas Ordens protestam contra a DGS e o Governo, e discordam de quase tudo.
Perante uma pandemia em crescendo, (com números tão ou mais preocupantes que aqueles que levaram ao confinamento de março),  DGS e Governo conformam-se com deixar infectar os que tiverem de ser infectados e resignam-se a ver morrer os que tiverem de morrer, porque a economia, essa, não pode voltar a parar. 
Paulatinamente, o discurso foi mudando e a responsabilidade de conter a pandemia passou para nós, os cidadãos. Temos de ser responsáveis e respeitar as indicações da Saúde Pública, para conter surtos, evitar novos contágios e mais vítimas. 
E assim vamos.

Entretanto, nos lares de idosos, não param os surtos de Covid-19... Os idosos não saem à rua, mas o vírus vai ter com eles.

Os idosos estão confinados deste março, ora sem visitas, ora com uma única visita por semana, sujeita a agendamento prévio, limitada a um curto período de tempo, à distância e respeitando as recomendações da DGS (ainda bem!).
Há lares que, entre março e junho, confinaram os seus funcionários em turnos contínuos, dias seguidos, para limitar ao máximo o contacto com o exterior. Reduziram ou eliminaram as actividades previstas, com o mesmo objectivo. E fazem o que podem para proteger os seus utentes. Para prevenir possíveis contágios, sujeitam qualquer um que saia para uma consulta de rotina ou uma urgência hospitalar a isolamento preventivo de catorze dias. Catorze intermináveis dias e noites, fechado num quarto, contactando esporadicamente e por curtos períodos com o funcionário que entra para lhe prestar assistência.
Os telemóveis, a que "toda a gente" recorreu para quebrar o isolamento, e que poderiam ser um precioso instrumento de contacto, não o são para todos, porque muitos idosos não os sabem manusear. Alguns lares promoveram videochamadas, com as limitações inerentes ao facto de para isso ser necessário recorrer à ajuda de um funcionário que tem mil coisas a fazer.
O país desconfinou em junho, mas os lares de idosos continuaram "confinados". 
Estamos em outubro. Passaram sete longos meses, e não se vê fim a este desconfinamento. 
Não é visível que haja uma particular preocupação do Estado, da sociedade, sequer da comunicação social, com os efeitos demolidores que o confinamento prolongado está a ter na saúde mental destas pessoas, já de si mais fragilizadas pelo peso da idade.


Não duvidando do carinho e do cuidado que muitos funcionários dos lares colocam no desempenho das suas funções, também não há dúvidas de que a vida dos idosos nos lares é, desde março, muito mais triste, parada, desinteressante, desmotivante e solitária.

Sem os momentos privilegiados de contacto directo e presencial com familiares e/ou amigos, o quotidiano de um idoso institucionalizado tornou-se mais difícil e a sensação de abandono acentua-se e dói. Dói na alma e dói no corpo. E nestas condições o idoso fecha-se ainda mais sobre si mesmo.
Mesmo em tempos normais, os lares são parcos em actividades para atenuar o isolamento e a apatia (por exemplo, leitura, manualidades, jardinagem, utilização da Internet, actividade física e mental).



Ora a actividade física adequada ao idoso é importante para a sua qualidade de vida. A actividade física reforça o sistema imunitário, assim como apanhar sol anima o espírito e levanta a moral a uma pessoa. Mas um idoso numa cadeira de rodas, que estiver fisicamente impossibilitado de a manobrar, só apanha sol se o puserem ao sol.

Infelizmente, estas preocupações não são o forte dos lares, porque disponibilizar um tipo de assistência mais adequado e de maior proximidade, bem como proporcionar actividades, exige pessoal disponível e/ou qualificado, cuja contratação é muitas vezes adiada ou mesmo inviabilizada por limitações financeiras. 
É do conhecimento geral que a "actividade" quotidiana mais frequente dos idosos em muitos lares é ver televisão.
Na maioria dos casos, o racio funcionário/idosos ou é respeitado nos mínimos impostos pela lei ou, por malabarismos de gestão de recursos humanos, nem chega a sê-lo. 
Mas nunca ninguém se preocupou com isto. Ou não foi preocupação a sério. E continua a não ser. As entidades reguladoras são peritas na arte de "fechar os olhos"...

Na verdade, os idosos não são uma preocupação da sociedade, a não ser que os tenhamos na família ou no nosso círculo de amigos. E, mesmo assim, também sabemos que a voragem e as exigências da vida activa dificilmente se compatibilizam com a visita regular a um idoso.
Mesmo sem pandemia, isto é triste, injusto e indigno de um país que se quer desenvolvido e guiado por padrões europeus de qualidade de vida.

É por demais evidente que os lares (mesmo os "caros") estão longe de proporcionar ao idoso o final de vida a que um ser humano deveria ter direito.

Correndo o risco de cair em injusta generalização, tentemos perceber a que se deve esta situação, e como se explica:
Por impedimentos laborais e profissionais, muitas famílias de idosos institucionalizados não conseguem acompanhar, por dentro, o funcionamento do lar e nem se apercebem do que é e de como é o quotidiano da instituição.
Muitos dos que conseguem estar mais de perto da vida do lar, quando se  apercebem de algum problema de funcionamento ou de incumprimento contratual, inibem-se de reclamar (ainda que legitimamente) por medo de eventual retaliação sobre o mais fraco, ou seja, o idoso.
Alguns, descontentes com as contingências da vida que os forçaram a entregar um ente querido a estranhos, experimentam uma espécie de sentimento de culpa e, ainda que inconscientemente, adoptam mecanismos de auto-protecção, afastando-se, porque "olhos que não vêem, coração que não sente". 
E também há quem "deposite" o idoso no lar e se limite a pagar a mensalidade, achando que está cumprida a sua obrigação e que não tem de se interessar ou preocupar por mais nada.

E quanto à sociedade civil, aos partidos políticos, às organizações? Por que não têm nos lares uma prioridade?
Porque a vida activa está muito ocupada a ser activa. A vida activa preocupa-se com o mais imediato. Preocupa-se com o trabalho, o salário, as contas, a casa, o carro, os filhos, o bem-estar, as férias (se puder...) e, eventualmente, um seguro de saúde, umas poupanças para um azar. 
Na verdade, a vida activa tem vistas bastante curtas, e acha que a terceira idade fica longe, mesmo que "longe" seja já ao virar da esquina dos dias.

Os idosos nos lares não têm sindicatos, nem Confederações, nem Ordens, nem qualquer organização que os defenda. Não descem a Avenida da Liberdade em manifestações de protesto. 
Os idosos nos lares não lançam petições, nem fazem vigílias em Belém ou São Bento.
Os idosos em lares nem sequer entram na contabilidade dos partidos como potenciais eleitores... Nem as campanhas eleitorais quebram a monotonia dos lares!
Além disso, os idosos não são fotogénicos nem telegénicos. A lentidão dos seus gestos, a debilidade da sua voz, o ritmo do seu discurso não são compatíveis com os timings televisivos, e não fazem disparar audiências.
Os idosos  têm corpos deformados, múltiplas deficiências e dependências, e são pouco faladores. Até pode algum ser rezingão, quando entra num lar, mas rapidamente o menosprezam ou ignoram, e o reduzem à sua insignificância, fazendo-o perceber que "vozes de burro não chegam ao céu".  

Um idoso num lar não tem vida própria. Não tem vida. A única coisa que a sociedade consente a um idoso num lar é o direito de esperar pela morte. 
Quando é que um idoso é notícia? Quando é assassinado ou quando morre.
E a morte pode, realmente, chegar mais depressa, com a "ajuda" deste coronavírus. Daí serem tão irrelevantes as consequências da Covid-19 nos idosos, em particular nos residentes em lares.

Talvez tenha sido a pensar em tudo isto que, a 13 de março, os lúcidos 84 anos do meu pai chegaram à seguinte conclusão:
_ Eles inventaram isto [o vírus] para acabar com os velhos; não vês que os velhos só dão despesa...

Se um idoso chega a esta conclusão, e a verbaliza deste modo, é porque algo está mal na nossa sociedade. 
Por inércia, desinteresse, indiferença, cumplicidade ou responsabilidade,  somos todos culpados deste "está mal".

30 setembro 2020

"Os adultos? Nunca!"

"Os adultos nunca se portam mal.
E nunca são egoístas.
Eles nunca gritam.
E nunca choram.
Nunca interrompem.
Nunca dizem palavrões.
E nunca são trapalhões.
Nunca fazem caretas. 
E nunca se enervam.
Os adultos nunca se enganam.
Nunca fazem batota.
E nunca amuam.
Nunca se esquecem.
Nunca culpam os outros.
Nunca desarrumam. 
E nunca se atrasam.
Os adultos nunca falam com a boca cheia. 
E nunca arrotam.
Eles nunca se queixam... sobretudo ao acordar.
Nunca deixam nada por fazer.
Nunca perdem tempo. 
E nunca fazem lixo.
Os adultos são sempre bons.
Portanto devemos ser como eles.
Percebido?"

                   David Cali


Foi o que me ocorreu depois de ver o debate dos candidatos presidenciais dos EUA...

29 setembro 2020

Outono Mansinho

 O Outono chegou de mansinho: 


sol, gaivotas amistosas, ora numa pata ora noutra, bebericando com tempo no calmo ribeirinho de água doce. Nem o bico corta a água nem a água corta o bico. 
Enfim, a natureza a regenerar-se, a descansar dos desvarios estivais e a procurar novos equilíbrios. 
Ecossistema respeitado, que é o que importa.
É sempre assim quando o campismo selvagem recolhe a casa.

22 setembro 2020

Entretanto, na Covidlândia...

 Desde o início disto tudo, fui hoje pela segunda vez a um centro comercial.

Não estava cheio de gente, pelo contrário, mas não deixei de me espantar com alguns comportamentos que vi e dá-me que pensar o que os motivará.

Faço-me às escadas para chegar ao 1º piso e logo aí não percebo o que leva as pessoas a enfileirarem-se em rebanho e subirem coladinhas umas às outras como se não houvesse amanhã. As marcas e avisos estão bem visíveis em todo o lado, porém...

Lá chego à farmácia sem ter sido abraçada por ninguém e sigo as instruções afixadas: primeiro desinfecto as mãos e de seguida tiro a senha. Enquanto aguardo, passo os olhos pelos produtos nos expositores e salta-me logo à vista o aviso "NÃO TOQUE nos produtos. Peça a ajuda de um funcionário". Neste meio tempo, o casal atrás de mim saltita alegremente de bisnaga em caixinha, com as mãos por todo o lado, e ao balcão um senhor está tão colado à protecção de acrílico que dir-se-ia que o barulho da transparência lhe afecta o ouvido.

Passo de seguida na Nespresso, sem incidentes, mas não entendo por que raio instalaram os acrílicos se depois saem lá de trás para nos dar o saquinho...

Finalmente passo na Hawkers para perguntar se me apertam uns óculos que lá comprei da primeira vez que fui a um centro comercial desde o início disto tudo. A menina diz que sim, que até os trocam por uns novos se for necessário. "Vou ao carro buscar os óculos, volto já", digo eu. E voltei... para a menina me dizer que não, não apertam óculos... e isto depois de ter agarrado no meu telemóvel para ver a foto da factura. Se não fosse a Covid, estava capaz de lhe dar um beijinho!

O que é que eu retive da horita que ali passei?

- a faixa etária mais idosa demonstra, de facto, mais cautelas;

- a faixa etária dos 30-45 denota uma certa impertinência perante as cautelas alheias, assim ao estilo "Eu tenho uma vida e não posso perder tempo com isto";

- os jovens estavam todos na escola;

- os funcionários, de duas uma: ou estão fartos de clientes que não cumprem regras, ou estão fartos de cumprir regras.

Voltarei a usar o comércio local sempre que possível, em pequenas doses para não me entrarem para os olhos estas areias de despreocupação e distanciamento empático pelo outro que hoje vi.

19 setembro 2020

PEDAGOGIA ANTI-ESTUPIDEZ

O Primeiro Ministro apela ao bom-senso dos portugueses, pede que se portem bem na escola da vida, que usem máscara, lavem as mãos, mantenham distância física... Enfim, pedagogia moderna.

Por mim, para grandes males, só mesmo grandes remédios!



18 setembro 2020

Pensamentos Circenses

 Tenho andado a pensar umas coisas, e a achar que anda gente a querer fazer-me o ninho atrás da orelha.     Nessas suspeições pensadeiras, ocorreu-me, por exemplo, que

  • O caso Costa-Benfica nunca deveria ter existido. Como existiu, estava condenado a acabar de forma vergonhosa, degradante e promíscua, tal como começou.
  • Marcelo celebrou o aniversário do SNS, falou da sua importância e disse-se orgulhoso por ter sido membro da Assembleia Constituinte em que o projecto de António Arnaut foi aprovado. Esqueceu-se de dizer que ele, Marcelo, votou contra esse embrião do Serviço Nacional de Saúde, ou seja, que por sua vontade o SNS nunca teria sido criado.
        Este é Marcelo, um político que faz contorcionismo para agradar à esquerda e ser
        reeleito por ela, sem a mais leve intenção de deixar de ser e agir como homem de
        direita que tem todo o direito de ser.
        Reconheço no actual PR a inteligência superior e a argúcia, mas não gosto quando
        se arma em Chico-Esperto e me toma por burra e totó.
  • Se o PS não assumir apoio explícito a Ana Gomes ou, em alternativa, não apresentar candidato próprio, estará implicitamente a apoiar Marcelo, candidato da área política contra a qual concorre nas eleições legislativas. Teremos então um partido que governa procurando apoios à esquerda para aprovar orçamentos de Estado, mas que faz pirueta à direita para eleger o Presidente da República da direita. Robusta e nobre coerência!...
  • Ainda bem que, à esquerda, já há 3 candidatos à PR, gente séria e credível, que está na política com sentido de serviço público. Acho muito bem e bom que assim seja. É que com tanto equilibrista, malabarista e contorcionista, estava a ver que o papel destinado a esta simples eleitora era o de bobo da corte ou de apanha-bolas do Benfica (meu clube de sempre, calma aí...). Assim, já a minha liberdade de pensamento escolheu em consciência uma candidata, tenazmente competente, às vezes contundente e impertinente, às vezes "dissidente", resistente, divergente, mas democraticamente transparente.
Eu bem vos disse que andei a pensar umas coisas.
Não me condenem por não querer ser bobo da corte, nem apanha-bolas.

17 setembro 2020

É a posse, poça!!

Marta está ladeada por Tiago e Pedro, e todos denotam impaciência proporcional à vitalidade.

António aguarda, resoluto e expectante, que chamem o seu nome.

Jamila está descoroçoada e mal consegue encarar Marcelo.

Marcelo faz a vontade a Jamila.

O secretário já pode suspirar de alívio depois de ter feito a leitura toda com os óculos embaciados.

Felizmente já terminou, que há muito trabalhinho para fazer... 

16 setembro 2020

Mãos verde-seco


Parece que tenho mãos "verde-seco".

Num tempo em que o planeta chama por nós, sinto que não consigo contribuir sequer para que o ar cá de casa seja mais puro...

E o pior é que o cenário se repete há anos a cada tentativa que faço de ter uma planta, uma flor, uma erva que fosse!

O pudor impede-me de mostrar mais testemunhos, mas aceito críticas, sugestões e assobios, na tentativa de remediar uma morte que parece mais anunciada do que adiada.

13 setembro 2020

SURTOS DE COVID-19: O DIREITO À INDIGNAÇÃO

A SITUAÇÃO

Santiago do Cacém assiste, nestes dias, a uma escalada do número de infectados pelo Covid19.
Ao que parece, o município estará a ser "atacado" pelo surto com origem em Sines.

Enquanto o recente surto do Carvalhal não me mereceu senão um lamento, por partir de gente a trabalhar, já a origem do surto de Sines me suscita a maior indignação.
Tanto quanto me é possível saber, a situação a que chegámos resulta de comportamentos fúteis, evitáveis, egoístas e irresponsáveis.

Primeiro, vai-se num "passeio" a Espanha, do qual se traz, assintomaticamente, o vírus.
A seguir, participa-se num ajuntamento convivial, a pretexto da final da Liga dos Campeões. 

Como se do lado de cá da fronteira não houvesse "passeio", e como se a dita Final não tivesse sido transmitida em sinal aberto e, portanto, acessível na segurança de casa.

Dir-me-ão os bons deste mundo:

a)  ninguém contrai o vírus porque quer;
b) as pessoas não tinham sintomas, não sabiam que iam contagiar.
c) não devemos apontar o dedo a ninguém, porque a seguir podemos ser nós.

E é verdade, e eu concordo. Mas, acrescento:

a) sair de casa para "conviver" Num país diferente, numa altura destas, não é correr
    voluntariamente um risco?
b) não ter sintomas e não saber se se está "contagioso" não é suficientemente dúbio para
    que, preventivamente, se evitem contactos?
c) querer ser respeitado pelos outros não implica a obrigação de respeitar?

OS COMPORTAMENTOS

I - AS OPÇÕES DA MAIORIA DOS PORTUGUESES:

- Ficar meses em casa, com raras saídas, apenas essenciais.
- Prescindir de encontros com família, colegas e amigos.
- Prescindir de afectos e de contacto físico com familiares, amigos e próximos.
- Usar máscara e seguir escrupulosamente os conselhos da DGS.
- Respeitar as normas de confinamento e todas as restrições impostas.
- Respeitar a perigosidade do vírus; evitar o contágio e temer a propagação.

II - AS OPÇÕES DE ALGUNS "ARTISTAS":

- Fazer uma vida normal.
- Participar em convívios e festas, refeições e petiscos, com amigos e com quem calha.
- Não se privar de nada que dê prazer.
- Não usar máscara e ignorar os conselhos de higienização da DGS.
- Ignorar as normas de confinamento e as restrições impostas.
- Desvalorizar a perigosidade do vírus, menosprezar os perigos do contágio e ignorar a
  propagação.


AS PERGUNTAS

Não estará na altura de cada um ser responsabilizado pelos seus actos e por lesar a sociedade com os seus comportamentos?
Não será de apresentar a estas criaturas as despesas resultantes da sua leviandade?

O REMATE

Eu também posso ser/estar contagiada. E posso contagiar outros. Qualquer um pode.
Mas esforço-me para que não o venha a ser por irresponsabilidade ou leviandade!

E é deste desrespeito por todos os que cumprimos, e acatamos e tememos, que eu estou saturada.
Cansei-me de tolerar, de desculpar e de aceitar a estupidez alheia como natural.
Saturei-me de me resignar, como se as asneiras alheias fossem 
uma inevitabilidade.
Fartei-me de ter de arcar com as consequências, e calar.


Se foram estabelecidas multas, por que não se aplicam?
Se há proibições, por que não se exige o seu cumprimento?

Quem provoca um acidente rodoviário é responsabilizado e aplica-se-lhe uma pena.
Quem rouba um bem material, e é apanhado, é punido.
E a quem impunentemente rouba a saúde aos outros, o que acontece?
Nada, além de ter de lidar com a doença (que até lhe pode ser clemente e assintomática).

Ninguém é responsável pelo que imprudentemente causa aos outros?
Mas, então, quem assegura o pagamento das despesas (testes, cuidados de saúde, etc)?
Nós! Pagamos todos nós!
Alguns, com a vida.
Outros, com sequelas da doença.
A maioria, com as despesas do SNS (que defendo incondicionalmente).


Nota:

Por causa desta situação, fui de novo privada de visitar os meus pais no lar. Ou melhor, eles foram privados de visitas.
Quem tem um familiar ou um próximo num lar sabe o mal que desde Março atingiu os idosos, ainda que em Santiago os lares não tenham sido, felizmente e até agora, devastados pelo vírus. Mas os idosos são atacados pelas consequências de uma enorme (ainda maior) solidão.

Mais do que do Covid-19, os idosos e a maioria de nós somos vítimas de algumas atitudes. 
Sem essas, o vírus ver-se-ia aflito para encontrar hospedeiros.

Não quero saber quem está na origem deste surto (nem de nenhum outro), nem se conheço ou não. Não é a mim que compete identificar doentes infectados. Só me interessam na medida em que interferem com a minha própria vida, e a dos que me são queridos.

Não sei se alguma vez o Assobio me saiu tão estridente!

Refuto qualquer tentativa de associação entre esta revolta e um discurso populista.
Nem o populismo nem os seus protagonistas me merecem qualquer simpatia.

NÃO TER FILHOS: UMA ESCOLHA

Não ter nem criar filhos não foi um acaso, foi uma escolha, uma opção contínua.

Renunciei a muitas coisas, e prossegui sem elas.
Não me arrependo de nada.

Acredito que a minha vida foi, é e sempre será "abençoada" pelos filhos dos outros, independentemente da idade que tenham.
Os filhos que não tenho não arruinaram o meu futuro; antes permitiram que a vida tivesse outros significados.
Não poderia amar mais os filhos que não tenho.
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Nota: Texto-réplica a um que proclama que ter filhos é uma escolha.

11 setembro 2020

A Inconsciência mata mais que o COVID19?

Não morremos se não beijarmos/abraçarmos um amigo, um familiar querido, mas podemos morrer ou matá-lo se o beijarmos.

Não morremos se não celebrarmos um aniversário ou um acontecimento, mas podemos morrer/matar quem convidarmos para a celebração.

Não morremos por usar máscara, mas podemos morrer ou matar por não a usar.

É tão simples:

- manter distanciamento físico;
- usar máscara;
- desinfectar as mãos e 
as superfícies.

Isto é sério! Parem de "laurear a pevide"! 

Adicionar legenda


08 setembro 2020

Real

O que eu quero mesmo é ir para aquela ilha.

Comprá-la, primeiro, num ímpeto egoísta, e depois arranjá-la a meu jeito.

Os planos estão traçados na minha cabeça e tenho solução para todos os estorvos que me sugerem:

- Mas está à venda? Não será do Estado? – Não sei, os advogados tratam disso.

- E como é que fazes as obras na ilha? – Não sei, os arquitectos tratam disso.

- Já pensaste como é que os materiais de construção chegam lá? – Não pensei, os empreiteiros tratam disso.

- Não tens medo que te invadam a ilha? – Não tenho, os tubarões que vou mandar pôr à volta tratam disso.

- Como é que fazes para ir às compras? – Não vou, o piloto do helicóptero trata disso.

- E se te der a solidão lá na ilha? – Não dá, eu sei tratar disso!

 

E pronto, depois acordo e vou teletrabalhar.

Mas garanto-vos que todos os dias sonho com a minha ilha.

Comichões e Dúvidas

O Papa Francisco condenou a coscuvilhice. 
Estaria a referir-se aos padres do Santuário de Fátima que denunciaram a gestão tão conforme aos ideais cristãos?

A comunicação social rejubilou e não se cansou de apontar a fraca afluência à Festa do Avante.
Será a vingança ou a consolação por não terem podido mostrar desorganização e incumprimento das regras da DGS?

Rui Rio dispara contra Costa e Jerónimo e enceta contactos com o Chega.
Deslocou-se de Norte para Des-Norte?

Cavaco reapareceu para defender a justificação de faltas das crianças impedidas 
de frequentar a disciplina de Cidadania e Desenvolvimento por um pai que se auto -proclama objector de consciência.
As ditas faltas foram injustificadas de acordo com o regime de assiduidade em vigor, criado pelo Governo de Passos Coelho e promulgado pelo Presidente da República, Cavaco Silva.
Será apenas senilidade ou algo mais grave?

Costa nem procurou candidato presidencial; acomodado à ideia de que ninguém vence Marcelo, prometeu-lhe o apoio calculista do PS.
Tem medo de Ana Gomes ou da língua dela?


E mais não coço nem questiono, por agora...

07 setembro 2020

Convites


O Convite

Convite | s.m.

1. Pedido de comparência de alguém em determinado acto. 2. Convocação. 3. (fig.) Incitação; exortação. 4. (ant.) Dádiva; favor; obséquio. 


Recebi um convite.

Em tempos de pandemia não pode haver ajuntamentos, por isso imaginei-me a escapar à festa. Ainda assim, abri-o com expectativa para descobrir o acto para o qual estaria convocada.

Percebo, então, que este convite não implicará a minha presença física numa cerimónia, nem tão pouco terei de esmifrar os neurónios a pensar no respectivo presente para o efeito.

É antes um desafio, um estímulo!

Nos textos disponíveis aqui nas Assobiadelas Antigas diz-se que QI Baixo colabora com o Assobio, e escreve neste blog quando pode e quer.

Agradeço pela liberdade (que tentarei que não passe a libertinagem), mas estou sobretudo reconhecida pela confiança implícita, mais uma vez, neste convite.

Até já!

03 setembro 2020

Hiperactividade e Educação

 SERÁ MESMO HIPERACTIVIDADE?


Não ponha rótulos na sua criança.
Não a classifique como doente porque é viva, e cheia de energia, desobediente e desorganizada.
Não confunda hiperactividade com falta de regras, de autoridade parental e de educação.

Não desista de educar, nem se resigne!
Não deixe a outros aquilo que é um direito seu, e sua responsabilidade.

Antes de entregar o seu filho à ciência e aos medicamentos, em vez de se assumir impotente, repense, faça um esforço, e eduque.

Eduque a criança e, se necessário, eduque também a sua relação com ele/ela.
Não desista de ser mãe/pai. Pode estar nas suas mãos a solução do problema.

Certifique-se de que a origem dos comportamentos/sintomas da criança não está na ausência de regras, de horários, de respeito... 

Pode acontecer que o problema não esteja na criança mas no desempenho de mãe e/ou pai...

Não vire costas à alarvidade, nem permita desrespeito, muito menos agressividade, violência.
Dê afecto sem condições, mas puna, com oportunidade sem violência e sem remorsos.
Premeie os progressos, mas não dê benesses sem que haja mérito.
Não castigue sem motivo, mas não ignore o disparate,o dislate, o abuso.
Se impôs condições, não ceda a chantagens.
Se prometeu, cumpra, e faça cumprir.
Negoceie, mas não se esqueça de que o adulto não é o mais novo.

Se os problemas persistirem, então, procure ajuda, para si e/ou para a criança.

Aos pais, a educação.
À escola, a formação.
À ciência, a saúde física e mental.

Para desanuviar, e sem qualquer preconceito, veja como a publicidade explora, com humor, estas questões.
Sinta-se à vontade para reflectir e comentar.

18 agosto 2020

Geração à Rasca - A nossa Culpa: História de uma Publicação Viral

"Geração à Rasca - A Nossa Culpa"
História de uma publicação viral e de uma usurpação de autoria


A 09 de março de 2011 surgia, no meu anterior blogue "Assobio Rebelde", hoje Assobio-Rebelde.blogspot.com, o texto com o título entre aspas, em epígrafe.

Nessa época, o Assobio tinha muitos seguidores, o texto foi também divulgado no Facebook, e rapidamente se tornou viral, muito também graças à divulgação por mail.

"Geração à Rasca - a Nossa Culpa" era uma análise polémica aos factos, à época  recentes, quando os jovens preparavam manifestações nacionais de protesto contra as condições que o país (não) lhes proporcionava. O texto original pode ser lido aqui.

De repente, sem que eu nada fizesse para que isso acontecesse, aquela prosa que escrevi e que eu mesma editei apareceu atribuída a Mia Couto.

Apercebi-me disso quando alguém me enviou o texto para o meu email, mas como sendo do moçambicano. Imagina-se a minha cara!

Nos dias seguintes, dediquei-me a procurar o texto na web. Encontrei-o publicado em dezenas de blogues 
(não estou a exagerar!). Encontrei-o reproduzido tal e qual. Encontrei-o com erros. Encontrei-o amputado. Até a primeira frase surgia quase sempre com um erro grave. Em vez de "Um dia isto tinha de acontecer", que eu escrevera, surgia "Um dia isto tinha que acontecer"...
Fiquei por não ter vida. Quanto mais vezes encontrava o texto, mais incomodada me sentia.


Dei-me ao trabalho de escrever comentários em todos os blogues onde o encontrei, deixando o link para o original, como no exemplo abaixo:



Alguns blogues reputados, como o De Rerum Natura, de Carlos Fiolhais, e o Fio de Prumo, de Helena Sacadura Cabral, que pensavam que tinham publicado Mia Couto, apressaram-se a rectificar a autoria.



O próprio Mia Couto deixou um comentário no Assobio Rebelde, a demarcar-se do texto! 

José Eduardo Agualusa, porta-voz de Mia Couto em Portugal, usou as redes sociais e a imprensa, logo a 18 de março de 2011, para dissociar Mia Couto do meu texto:


No meu blogue, a  21 de março de 2011, insurgi-me contra o facto de estar a ser injustamente acusada de roubar a Mia Couto uma coisa que ele negava ter escrito.
Kafka teria gostado deste processo!

Apesar de todos estes esforços para repor a verdade, e contra a vontade dos dois lesados, a publicação continuou a surgir, atribuída ao escritor moçambicano.  
Dois anos depois, em 2013, o texto continuava a aparecer, e na página oficial de Facebook do escritor, surgiu esta publicação:




O caso atingiu tais proporç
ões que um dos primeiros blogues que em Portugal se dedicou à literacia digital, de seu nome "Sobre Literacia Digital" , se debruçou sobre o assunto, num longo e muito instrutivo post.
 
O editor do blogue,  Ricardo Nuno Silva, utilizou o caso para fazer pedagogia sobre a necessidade de confirmarmos a autoria dos textos que se publicam nas redes sociais, e na web em geral, e para a necessidade de estarmos muito atentos ao surgimento (já naquela altura preocupante, e hoje ainda mais) de situações de usurpação de identidade.

Nesse post, o editor deu-se ao trabalho de recolher excertos de várias publicações relacionadas com a polémica.
É graças a ele que consegui recuperar o comentário que Mia Couto me deixou, no Assobio Rebelde:



E também outro comentário de Mia Couto, e ainda outros dois, um meu e outro de outro "blogueiro":



Não julguem que esta situação não fez estragos.
Cheguei a ser insultada por chamar meu a um texto de Mia Couto...
Fui acusada de lhe ter propositadamente atribuído o meu texto para com isso conseguir projecção...

Infelizmente, pelas razões que expliquei aqui no blog, perdi todos os comentários às publicações originais da primeira edição (até 2013).

Escrevo sobre estas peripécias, em 2020, porque o devia a mim própria, e aos leitores do blogue. Os factos estão comprovados, são indesmentíveis, mas faltava esta retrospectiva.

Descobri, através deste caso, que um nome pode valer muito mais do que um texto! O texto era o meu, mas atribuído a Mia Couto, ganhou de facto mais valor para muita gente...
No entanto, não estou agradecida a quem o fez (continuo sem saber quem foi...) nem feliz por isso.

Foi-me possível, na altura, remontar à publicação original. Bastou abrir todos os links resultantes da busca no Google, e ver as datas em que apareceram publicados, para verificar que não havia nenhuma mais antiga que a minha. Não podia haver, visto que a minha era inédita!

Escrevo sobre este assunto, hoje, passados nove anos, também porque sinto que cada vez mais as redes sociais são uma selva onde tudo se rouba e tudo se (re)publica, sem respeito por autores e pela sua obra, seja ela textual, fotográfica, videográfica ou fonográfica.

As redes sociais são espaços onde, virtualmente,  as pessoas fazem e dizem aquilo que não seriam capazes de fazer e dizer "olhos nos olhos", mas em que revelam a verdadeira essência do seu carácter, como se pode ver por um outro episódio em que me vi recentemente envolvida, de forma involuntária e a contragosto.

Um membro de um grupo de que sou co-administradora numa rede social acusou-me de ter suprimido uma sua recente publicação; depois de me insultar, e de tentar denegrir-me, abandonou o grupo, certamente consciente de que com esse abandono desapareceria toda a sua pegada digital, o que efectivamente acontece.

Felizmente, o
 Facebook regista automaticamente a acção dos administradores relativamente a todos os membros de um grupo. E eu já tinha acedido a todo o registo relacionado com o membro em questão, do qual fiz print-screens, com que pude comprovar a calúnia.

A pessoa tentou mesmo envolver a acusação numa nebulosa, associando a inexistente eliminação de uma publicação recente à efectiva eliminação de publicações anteriores ao segundo semestre de 2019, altura em que eu não tinha actividade de administradora do grupo, pelo que as eliminações realizadas antes dessa data nunca me poderiam ser imputadas, como também ficou comprovado pelo registo do Facebook.

Nestas duas situações, em 2011 e em 2020, consegui provar, factualmente, a  verticalidade com que estou na vida, tanto a digital como a de carne e osso.

Considero que estes dois casos demonstram quanto as redes sociais e a web nos tornam vulneráveis,  e como podemos facilmente ser vítimas de má-fé e de intenções insondáveis, por parte de desconhecidos ou de quem menos esperamos.

Esta é a actual realidade das redes sociais, nuns casos por desconhecimento e iliteracia digital, noutros (os que nos devem, verdadeiramente preocupar!) por atropelo consciente e propositado aos mais elementares princípios de ética e de cidadania digital.

Por tudo isto, ponderei muito seriamente abandonar por completo as redes sociais.
Decidi, desde logo, que a minha presença num grupo em regime de responsabilidade partilhada tem os dias contados e data de enterro marcada.
Mas, individualmente, optei por resistir, ciente de que ninguém está protegido contra ataques e tentativas de vilipêndio.

Estou de novo, mesmo que fora de moda, na blogosfera.
Mantenho o meu perfil pessoal de Facebook e o meu canal de YouTube.
E talvez dê à rede outro projecto.

Continuarei, pois, tal como até agora, direitinha que nem um fuso, porque o que não me consegue calar torna-me ainda mais refilona.
Move-me a convicção de que não é fugindo desta torrente de lama que ela deixará de fazer estragos. É encarando-a de frente e, sempre que possível e necessário, denunciar-lhe as manhas, os abusos e as doenças de que enferma.


Dizem que "uma andorinha não faz a Primavera", mas o seu chilrear é único, e gosto de vê-la voar. 
Não a troco por um céu povoado pela
 negritude de melros e corvos, por mais sonoro e afinado que pareça o seu grasnar.
Em 2020, faz 
ainda mais sentido para mim que o Assobio seja Rebelde.

17 agosto 2020

O "Novo" Assobio

 O RENASCER DO ASSOBIO


Criei o blogue "Assobio Rebelde" em 2006 e mantive-o, mais ou menos irregularmente, até 2013.

Ao longo dos anos, teve momentos de silêncio e períodos de maior actividade.

Em 2011, o assobiorebelde.blogspot.com protagonizou uma das mais estranhas polémicas das redes sociais, com 

A publicação de "Geração à Rasca - A Nossa Culpa"


Foi a 09 de março de 2011 que redigi e publiquei o texto "Geração à Rasca - A Nossa Culpa".

O texto tornou-se virtual, na blogosfera e no Facebook e, de um momento para o outro, do nada, apareceu atribuído a Mia Couto.
Eu própria cheguei a receber o texto, por mail, como se fosse do autor moçambicano! E ainda hoje, de vez em quando, volta a aparecer nas redes sociais, sempre erradamente atribuído.

Noutra publicação, traçarei a história das peripécias e acontecimentos em torno do meu "Geração à Rasca - A Nossa Culpa".

Agora, é da história do Assobio Rebelde que se trata.

Assobio Adormecido = Assobio Apagado


Por circunstâncias várias, deixei de fazer publicações no blogue em 2013.

Quando, há uns meses atrás, saturada de Facebooks e afins, me apeteceu retomar as Assobiadelas, não consegui aceder ao blogue. Tinha simplesmente desaparecido. Nem como leitora nem acedendo com as credenciais do Blogger lá consegui voltar.
Em vão, fiz apelo ao Blogger para recuperar o acesso e o próprio blogue.

Percebi depois que a supressão do Assobio tinha a ver com o facto de estar inicialmente associado a um endereço de mail que não era Gmail.
Quando consultei esse meu endereço de correio, da concorrência, constatei que, de facto, tinha em tempos sido notificada para proceder à alteração do mail, sob pena de encerramento do "Assobio". Foi mais um estratagema da Google para agregar tudo sob a sua alçada. E assim descobri que era tarde. O meu Assobio estava irremediavelmente perdido.

Para cúmulo, nunca tive o hábito de guardar no computador as publicações que fazia, e que redigia directamente no Blogger...

Após muitas peripécias, e tentativas falhadas junto do próprio Blogger, consegui aceder a dois backups automáticos, e assim recuperar a maioria das publicações. Faltam as primeiras e faltam as últimas. Menos mal.
Mas nada mais recuperei. Perdi todos os comentários, bem como o histórico de visitas, e todas as aplicações e dados associados, bem como toda a restante informação do blogue.

Assobiorebelde morto = Assobio-rebelde (Re)nascido 


Restava-me começar do zero. 

Naturalmente, tentei criar um AssobioRebelde.blogspot.com, mas o Blogger informou-me que o endereço não está disponível, porque já existe um blogue com esse nome, que por acaso é o meu, e ao qual o Blogger não me deixa aceder. 
Estranho, mas definitivo.

Nasceu assim este 
assobio-rebelde.blogspot.com

Há um hífen a separar e a distinguir os dois blogues. Mas é o mesmo hífen que os mantém historicamente ligados, sendo este a continuidade e a segunda vida do anterior.

Assobio-Rebelde: Que sentido um blog, no séc. XXI?


Estou cansada do imediatismo cerebral do Facebook, do minimalismo do Instagram, das restrições do Twitter.

Apetece-me poder escrever textos mais longos, textos-textos, que não precisam de usar imagens como isco. Textos que se deixem ler pelo que valem.

Voltarei sempre que mo ditar o quotidiano e mo permitir o tempo, 
fiel aos meus pensamentos e à recusa do "Novo" Acordo Ortográfico.

Evidentemente, "modernidade obriga", os textos serão partilhados no meu Facebook, e possivelmente noutras redes sociais, se me apetecer.

Os leitores do blogue poderão também, se quiserem, partilhá-los directamente no Facebook, sem dificuldade nenhuma.

E posto isto, bem vindos, todos, ao Assobio Rebelde!

Se gostarem do que lêem, sigam o blogue, para não perderem novas publicações.

16 agosto 2020

10 Proibições de Salazar - contra o branqueamento do regime derrubado em 1974

Contra o branqueamento do regime derrubado em 1974


Há momentos em que me apetece avivar a memória de quem acha que "dantes" é que era bom.

Estamos num tempo de branqueamento do salazarismo e do Estado Novo, pelo que importa que nos confrontemos com factos e leis do passado, que não têm branqueamento nem defesa possível, nem cabem num Estado de Direito.

Éramos um país atrasado, o regime era retrógrado e repressivo, e as mulheres eram seres inferiores, destinados a ter filhos e a educá-los, a ser boas esposas e a obedecer aos maridos. Nenhum papel público estava previsto para mulheres. Nem as escolas secundárias as desejavam, muito menos as universidades.

Só nos anos 60 sopraram alguns ventos de mudança, e os "liceus" passaram a ter, também , muitas raparigas.

Houve excepções? Houve, claro! Mas foram tão poucas que só confirmam a regra então vigente, que visava afastar as mulheres de uma instrução que servia para preparar elites para o acesso ao poder.

Se é incomodativo que ainda hoje encontremos tantos resquícios de uma mentalidade e de uma educação que o regime fez entranhar em várias gerações, mais incomodativo é que alguns nos pretendam convencer de que estávamos melhor há 60 ou 70 anos.

As ditaduras só se instalam por acomodamento e condescendência dos povos.

O que está a acontecer politicamente em Portugal não pode deixar de me preocupar, enquanto cidadã e mulher cuja liberdade actual e cujos direitos resultam, precisamente, do derrube do regime que alguns hoje consideram melhor do que o actual.

Siga a link abaixo, para aceder a dez das muitas proibições do Estado Novo.

12 agosto 2020

Leitura de Verão - Uma Fábula de Esopo, em Versão Livre

Fábula de Esopo, em Versão Livre


Uma raposa esfomeada entrou numa vinha e invejou uns belos cachos de uvas pretas, enormes e suculentos, a brilhar no alto de uma parreira.
Achou que ia ter um belo repasto mas, por mais que tentasse, não conseguiu alcançar as uvas.

Irritada, frustrada, impotente, afastou-se da vinha, dizendo:

“ Quem quiser estas uvas, que as coma! Estão verdes e são azedas. Mesmo que mas dessem, eu não as comeria!”

Digam lá que a fábula não tem atualidade?

Pois se anda tanta gente neste país a desprezar o que não consegue conquistar...

11 agosto 2020

Cristina Ferreira e a Cegueira da Solidariedade Feminina

Cristina Ferreira de Volta à TVi
e a Solidariedade Feminina



Tenho visto muita mulher defender incondicionalmente Cristina Ferreira em nome de uma espécie de solidariedade feminina, que me parece perigosamente cega e surda.

Finalmente, encontro uma que chama os bois pelos nomes: quer se trate de mulheres ou de homens, os fins não justificam os meios.




01 agosto 2020

O Assalto ao Facebook

O assalto da extrema-direita ao Facebook

Na semana passada, a revista "Visão" denunciou a estratégia do Chega nas redes sociais, que inclui a criação de perfis falsos de Facebook, que se fazem convidados nos perfis pessoais e entram como membros nos grupos existentes.

Desde há uns três meses, tenho pessoalmente recebido (e ignorado) pedidos de amizade de estranhos.

Como co-administradora de um grupo, também vejo muitos "desconhecidos" a pedir adesão, sem qualquer ligação aparente à temática do grupo ou a outros membros.

Por princípio, não aceitamos novos membros sem perceber minimamente quem são, através da informação disponível.

E o que se descobre sobre essa "pessoa"?

  • tem um banal apelido português (como Jose Sousa), frequentemente inglês, às vezes de origem africana;
  • apresenta uma residência no estrangeiro ou em Lisboa;
  • tem fotografia de perfil, insuspeita, mas "roubada" (de um actor, de um modelo, ou roubada num site ou a outro perfil.
  • tem pouquíssimos "amigos" ou mesmo nenhum;
  • tem muito pouco ou nada publicado na sua página pessoal;
  • é membro de dezenas, às vezes de mais de cem grupos.

Um pouco mais de atenção, e vemos que entre os muitos grupos de que é membro pode aparecer um ligado ao dito partido ou ao seu líder.

Nenhum destes falsos perfis foi aceite neste Grupo, mas, a avaliar pelos que já integram, entraram em muitos outros.
Ora eu não acredito que as centenas de grupos de Facebook que existem no nosso país estejam conscientemente a acolher adeptos do "Chega".

Então, porque é que isto acontece?

1. Muitos administradores de grupos são-no por carolice, e não têm tempo para exercer maior supervisão sobre o grupo, tarefa exigente e demorada, mas  necessária, precisamente para controlar situações desta natureza.

2. Muitos administradores estão tão interessados em ver crescer o seu grupo que qualquer novo membro é bem vindo.

3. Há administradores de grupo que não têm suficiente domínio sobre as funcionalidades de gestão do grupo para poder usar e tirar partido de tudo o que têm ao seu dispor.

Por enquanto, estes perfis estão silenciosos. Não têm qualquer interacção com os grupos, nem um simples "Gosto" numa publicação.

E quando desatarem a publicar propaganda política nas centenas de grupos em que se infiltraram, e em que, como membros, são livres de publicar o que lhes apetecer?

Se e quando isso acontecer, os administradores vão ser ultrapassados pela onda de publicações e não conseguirão eliminá-las em tempo útil, a não ser que as submetam a aprovação prévia, coisa que, de boa-fé, a maior parte não faz.
A estratégia tem tanto de hábil quanto de repugnante.

Quem julgar que isto é coisa menor, redes sociais, que não interessa, e que não tem qualquer impacto na sociedade, engana-se.

Há centenas de grupos com largos milhares de membros que vão ser bombardeados com a mensagem política do Chega, a custo zero, e sem qualquer controle nem regras.

Os partidos políticos sabem bem a força e o impacto das redes sociais.

Não é por acaso que vão aparecendo grupos simpáticos e apelativos que, sob uma aparência insuspeita, escondem intenções político-partidárias, mantidas em segredo e que podem até nunca serem reveladas.
Surgem para que os seus mentores alcancem a popularidade, a proximidade e a credibilidade de que precisam (e que nunca conseguiriam de outra forma) para se apresentarem a eleições ou para promoverem candidaturas políticas.

Tudo isto faz com que equacione seriamente afastar-me deste universo em que, sob aparência de espontaneidade e de autenticidade, se escondem maquiavélicas intenções de promoção de interesses políticos e/ou pessoais.

E tudo isto me dá que pensar.

A vocês, não?...