22 dezembro 2006

11 dezembro 2006

Teimosias

 Aconteceu de repente, sem perturbação.

De súbito, ela levantou-se: queria que eu a deixasse sair, que lhe marcasse falta, pouco importava; o importante era sair.
Eu quis que ela continuasse na aula, sem lhe marcar falta; o importante era que não saísse.
Ela levantou-se e dirigiu-se à porta, insistente no desejo de ir embora.
Eu encostei-me à porta, pedindo-lhe para ficar. Não me apetecia sabê-la lá fora. Achava-a mais livre ficando na sala de aula.
A ela, não lhe interessava continuar ali dentro, no espaço de todos os limites. E continuava a pedir, a pedir, a pedir.

Protagonizámos um dos frente-a-frente mais caricatos e absurdos que alguma vez uma aula minha presenciou, ambas cordiais mas irredutíveis na teimosia, sem ceder, mas com respeito.
A aula prosseguiu, desajeitada, meio engasgada. Quando tocou para sair, ela ainda lá estava. De pé, como as árvores. E eu também, porta dialogante diante da porta muda, fechadura de alta segurança, mãe providência, gaja até fixe mas muiiiita chata.

Fiquei o resto do dia a assobiar baixinho e a lembrar-me de M., um aluno meio lunático, meio furor de Álvaro de Campos, que me disse uma vez que a minha paciência tinha limites próximos do infinito.
Amainou-me a recordação de um tempo em que os alunos sem favor iam às aulas, sem favor estudavam e sem favor até gostavam.
Apesar de tudo, acordarei amanhã e continuarei a gostar disto. É certo que assim será. Ainda que desgastantes, estas vivências têm o condão de me revigorar !

06 dezembro 2006

Assalto à Fortaleza de Esferovite

 Hoje, a Secundária Manuel da Fonseca, em Cerromaior, esteve fechada, porque foi assaltada durante a noite.

Quem entrou, devia saber ao que ia.
Os novos computadores portáteis são petisco que não se encontra todos os dias, e que recentemente tem atraído larápios a várias escolas! Mas não levaram os nossos! Espalharam papéis, abriram armários, arrombaram o cofre, revoltaram Clubes e salas, entraram em gabinetes, espreitaram até no sótão, mas não os encontraram!
Felizmente, não tocaram nas árvores de Natal nem nas bancas do Mercado (era hoje o Grande Mercado de Natal e a inauguração da exposição-concurso de Árvores de Natal). Mas entraram e serviram-se, sem dificuldade, certamente por saberem que ninguém os poderia atrapalhar ou sequer ouvir... Beberam iogurtes, levaram chocolates, algum dinheiro, e algum valioso e moderno equipamento de vídeo, que custou muito a comprar...
Num espaço onde parece que o guarda-nocturno só está entre as seis da manhã e o meio-dia, o que os terá impedido de continuar a roubar/procurar?

03 dezembro 2006

Espectáculos

 O TACA (Teatro Amador de Cercal do Alentejo) estreou este fim-de-semana mais um espectáculo de revista , em duas sessões que a população da vila muito rapidamente esgotou.

"É o Fim da Macacada!" foram mais de 3 horas de sketchs de crítica social e política à vida local e nacional, com um humor umas vezes certeiro outras brejeiro, como é próprio deste género teatral; a par do teatro, o espectáculo apresenta alguns momentos musicais de boa qualidade, com um número de canto lírico, porque o TACA está atento aos novos valores da terra.
Foi um serão muito bem passado, numa vila onde pouco ou nada acontece, e em que o TACA, desde há 34 anos, não tem deixado de ser a voz crítica e atenta que agita e anima as consciências e ocupa os tempos livres da juventude da terra, sempre sob a direcção artística de um José Luís irreverente, muitas vezes provocador e sempre talentoso.
A última apresentação da revista, como é tradição do grupo, está a ser oferecida neste fim de tarde de domingo à terceira idade.

Também a Sociedade Harmonia (a mais velha colectividade do país) comemorou esta semana mais um aniversário, apresentando uma amostra das várias actividades que ali se desenvolvem. O Coral Harmonia, cada vez mais sólido, cada vez mais solto e contagiante, brilhou de novo, e aguçou o apetite para o que há-de vir a ser o Concerto de Natal, na Igreja Matriz de Cerromaior, lá para o fim do mês.
http://www.coralharmonia.net

Mais espectáculo houve, com o Coral da Santa Casa da Misericódia de Santiago do Cacém, esta tarde, na Igreja de Cercal do Alentejo; uma hora de canções, para um concerto de Natal cheio de gente e de calor humano, porque a música não deixa de ser um grande tempero do espírito.

23 novembro 2006

Natal em Novembro?

 Dantes, o período natalício chegava com o mês de Dezembro.

Por tradição, na primeira semana revelavam-se as decorações das montras e as iluminações exteriores.
Recebido o salário de Novembro, os adultos partiam às escondidas à cata do presente que haveria de surpreender a criança na manhã de 25 de Dezembro, trazido pelo Menino Jesus, via chaminé.

Um dia, a "Caca-Cola" decidiu que o Menino Jesus era kitch e insonso e, numa tirada comercial, substituiu-o pelo Pai Natal, que ofereceu ao mundo vestidinho de vermelho.
Teve então início uma nova era.
Os adultos passaram a entregar em mão os presentes às crianças, vestidos de "Ho-Ho-Ho!".
O Menino Jesus só já conta para o presépio, e as montras enchem-se de renas e veados espantados com a nossa falta de neve.
As televisões apresentam-se com separadores alusivos, ou com um logotipo de barrete ou encavalitado num trenó, sempre com muita neve...

Este ano sagrado de 2006 marcará um novo passo em frente na nossa admirável civilização.
Até os mais distraídos já perceberam que o Natal começou em Novembro. Foi só trocar a abóbora do Halloween por um pinguim de barrete vermelho!
Mal se despiu a fantasia de bruxa começaram as provas da fatiota de Mãe Natal! E é comprar, meus senhores, é comprar, quanto mais cedo melhor!
É Natal! É Natal!! É Natal!!!

- Natal... já? Mas Jesus, o "Menino Jesus", não nasceu só em Dezembro?- pergunto eu.

E responde-me o Sindicato dos Banqueiros, a Cooperativa dos Hipermercados, a Comissão dos Dependentes do Negócio dos Brinquedos ou o Porta-Voz dos Vendedores de Luzinhas:

- Ouve lá, ó Anjolas, que história é essa de "Menino Jesus"?...
Deixa-te de merdas, e não estragues o negócio!

11 novembro 2006

Óbidos - Pseudo-Festival do Chocolate

 Fui a Óbidos; só vi ruelas entupidas, atravancadas de gente, acotovelando-se em formigueiros de coisa nenhuma ou aguardando horas de pé, em filas infindas para ver quase nada.

Ia a um “Festival Internacional”, mas encontrei uma feirinha de chocolates.

Falar de chocolate, em termos internacionais, não vai sem se referir belgas e suíços. Bruxelas, por exemplo, é um permanente Festival de Chocolate, com as montras das lojas dos melhores chocolateiros artesanais a rirem-se para nós e a tentarem-nos com a última invenção, quase sempre irresistível.

Aquela coisa de Óbidos é apenas uma máquina de promoção da Nestlé, que é quem patrocina e quem aparentemente mais negoceia, porque é quem vende mais barato (e menos bom).

Como se trata supostamente de um Festival, é claro que temos de pagar entrada; em troca, untam-nos a boca com uma tabletezinha de leite (Nestlé, pois claro!) como se nos estivessem a dar grande coisa, o que só consegue aumentar a minha assobiadela.
No mundo do chocolate, a Nestlé não passa de um gigantesco fabricante de tabletes em série! A grande e verdadeira arte manual do chocolate é outra coisa!
Ai, chocolate, chocolate, o que por aí vai em teu nome!...

Parabéns à Câmara de Óbidos por ser capaz de promover a sua terra, atraindo multidões (ainda que para um logro, com a ajuda preciosa da comunicação social). Voltarei a Óbidos, em qualquer altura, para rever Óbidos.
Pseudo-festival pseudo-internacional de pseudo-chocolate, não quero mais!
Com o dinheiro da entrada começo o mealheiro para umas trufas de champagne da Neuhaus: não deixam de ser já fabrico em série, mas ficam próximas da perfeição!

(Grande em qualidade e variedade da oferta de doçaria e pastelaria é o Festival da Batata Doce, em Aljezur. Isso sim, é apostar no genuíno!!!)

09 novembro 2006

Chocolate - Um Post Guloso

 Óbidos -papilas gustativas arreganhadas!


A Fábrica de Chocolate- hilariante e provocador Tim Burton; doce monstro Depp.

Chocolate - bendita Juliette Binoche, quase tão bem como em "Les Amants du Pont Neuf"

Neuhaus - grande chocolateiro! Abençoados "ballotins" belgas, no Gourmet do El Corte Espanhol
Como Água para Chocolate - lembrou a Tit, e fez muito bem!

Chocolate à Chuva - terna Alice Vieira (acrescento eu, para engrossar a lista)

Bolo de Chocolate - divino, macio, cremoso... verdadeira perdição, o que os alunos vendem na minha escola, para arranjarem dinheiro para se irem embebedar 7 dias e 7 noites numa espelunca espanhola, eles e mais uns milhares de criativos e originalíssimos rebentos lusitanos que assim alimentam operadores oportunistas e estâncias banais.

Maldita mania de assobiar!!! Isto estava a correr tão bem...

08 novembro 2006

Horário de Trabalho

 Quem é que entra no emprego às 8 da manhã, sai de lá às 23.55 e volta no dia seguinte, outra vez às 8 da manhã?

Quem é que almoça sandes com iogurte e janta pães-de-leite com iogurte?
Quem é que não tem tempo nem para se coçar, quanto mais para bloguear?

Pode ser qualquer pessoa... menos um professor, porque isso é gajo com horário de luxo, que não faz a ponta dum chavelho!

23 outubro 2006

Televisão, Filmes e Cinema

 De vez em quando, não se sabe muito bem com que critério, a RTP brinda-nos com um pacote de filmes franceses, avulso ou por atacado.

Esta semana, veio outra vez a boa Amélie, mais um François Ozon, fora a "Reine Margot" que se perdeu pelo caminho, sem dar cavaco a ninguém.
A percentagem de cinema europeu que passa nas "nossas" televisões é tão pequena que quase nem damos por ela.
O resto, são americanadas, quase sempre comercialóides, que já não há pachorra para aturar.
Cinema independente, alternativo, é coisa que não consta de uma estratégia de lucro.
Clássicos, daqueles com que aprendemos, desapareceram!
Os jovens portugueses crescem na firme convicção de que não há nada para lá de Potters, Anéis, Batmen ou Ramboiadas (se é que algum filme sobrevive a Ervibellas e Morranhos...).
Quando é que lhes é dada a possibilidade de aprender a distinguir entre filmes e cinema ?
Alguma vez terão oportunidade de perceber que existe uma História do Cinema que não passa, necessariamente, pela entrega dos Óscares?
Serviço público de televisão não deveria ser outra coisa?
Tirem-me deste filme!

20 outubro 2006

Blogue B

 Está finalmente disponível o blogue do 9ºB.

http://blogueb.blogspot.com

Aberto a textos dos Bês
e a comentários/sugestões dos outros,
que são todos vocês.

15 outubro 2006

Ninhada de Blogues - II

 Está quase esgotado o fim-de-semana, mas não o que havia para fazer.

E assim se envelhece.
Na minha ausência, vocês foram passando; peço desculpa pela demora na publicação dos comentários.

Para os mais impacientes, que lá não chegaram pelos links dos comentários, aqui ficam alguns filhotes, ainda muito recém-nascidos.

http://kuartetoparvastico.blogspot.com/

http://nita-2.blogspot.com/

http://guttiethoughts.blogspot.com/

http://friendpixie.blogspot.com/

(Este último blogue já nasceu no ano lectivo passado, mas andou "incógnito"...)

Espero que esta juventude vá alimentando regularmente as bocas que criou; é preciso mantê-las, mas também é fundamental não deixar de dar resposta às outras solicitações do quotidiano, nomeadamente as da vida de estudante.
Acima de tudo, há que ter consciência de que um blogue é um sorvedoiro de tempo, mas não é - não tem de ser!- uma prioridade existencial.

Fica ainda outra novidade da minha escola:

http://robotesmf.no.sapo.pt/

Venham mais cinco!

11 outubro 2006

Blogue à Espera

 Pois é!

Os blogues da turmas estão a dar-me que fazer, nesta fase de lançamento, e as horitas não esticam...
Como ainda não há professor de Informática, tenho eu de avançar, inventar tempo, preparar tudinho, criar condições para que a coisa possa funcionar, depois, com a devida autonomia estudantil.

É uma questão de prioridades - nos próximos dias, todo o tempo disponível será para a escrita da rapaziada. Os textos que tenho em espera já andam a bater o pé de impaciência.
Além disso, há outra prioridade absoluta, a nível familiar.

E quando é que eu assobio?
Quando sobrarem uns minutinhos...

Até lá, bom trabalho, boas aulas, bom viver!

08 outubro 2006

Ninhada de Blogues - I

 Propus aos meus alunos a criação de um blogue da turma, para publicação e difusão dos textos que eles forem produzindo e que queiram partilhar.

A ideia pegou, colectivamente, e já está em gestação, mas o mais agradável é que estão a começar a aparecer blogues de alguns jovens mais virados para a escrita!
Acho que a melhor coisa que pode acontecer à proposta de um professor é os alunos tomarem conta dela.
E é assim que uma pessoa não consegue deixar de gostar de ser professora...

04 outubro 2006

Assassinato de Eça de Queirós

 Assisti ontem a um assassinato de Eça de Queirós.

Foi na Biblioteca Municipal Manuel da Fonseca, em Cerromaior.

A autarquia tinha-nos convidado para assistir a uma leitura encenada, dramatizada, do conto José Matias. Esperávamos ver qualquer coisa parecida com teatro, expressão dramática, arte; foi isso que anunciámos aos nossos alunos.
Fomos enganados. Em vez disso, um actor monocórdico e inexpressivo, daqueles feitos à pressa, levou uma hora a "ler" o conto , que é um dos mais belos da prosa queirosiana.

Perante a frustração, o tédio e o desinteresse paciente e bem comportado dos nossos alunos de 9º e 10º ano, eu e a colega lá íamos assobiando entre dentes a nossa decepção e a nossa indignação.
Sentimo-nos todos enganados.
Assim se defraudam expectativas e se desmotivam alunos, gastando mal o dinheiro dos munícipes!
Eu bem digo que em Cerromaior se vai de mal a pior...

01 outubro 2006

Pechisbeque- I

 O ouro das "luvas" do Apito Dourado era falso, dizem os jornais de hoje.

É bem feita para os árbitros; queriam o quê, os quilates todos, só por um penaltizito?
O pechisbeque assenta-lhes tão bem!

Na verdade, quando se fala do futebol português é mesmo de pechisbeque que se trata.
Estes presentes são proporcionais à dignidade de quem os oferece e de quem os recebe.
Qualquer "boutique de alcofa" é mais honrada do que estes senhores.

(Ainda funcionará algum dos frigoríficos oferecidos em Gondomar, na campanha eleitoral, ou também seriam falsificados?)

28 setembro 2006

Sentido Prático

 Uma empresa de Sines veio hoje substituir o motor do portão da garagem. Estiveram cá todo o dia.

Depois de concluída a obra, a gerência do condomínio afixou nos elevadores do prédio um aviso:
Como os antigos comandos não servem, é agora preciso comprar novos à empresa de Sines, cujo técnico terá de vir programá-los junto ao portão; os interessados devem contactar a empresa.

Sendo assim, para voltar a ter acesso à nossa garagem, será preciso telefonar para Sines e encomendar o comando que o tal técnico há-de depois vir programar "in loco", depois de"bater" 15 km para chegar a Cerromaior.
Como há umas 30 garagens, serão 30 telefonemas, 30 comandos e, se calhar, outras tantas deslocações do técnico, certamente à custa dos proprietários...

Não é de ficar a assobiar?

Porque é que não se fez atempadamente um levantamento (se necessário com pagamento antecipado) das necessidades de comandos, para proceder a uma só encomenda colectiva inicial, que evitasse desperdício de tempo, de mão-de-obra e de dinheiro, e que não nos privasse do acesso à nossa propriedade durante sabe-se lá quantos dias?
Porque é que não se avisaram hoje os condóminos a tempo de poderem contactar directamente os técnicos que estavam no local, se calhar até com comandos disponíveis para venda imediata?
Não será mesmo possível "copiar" a programação sem deslocar um técnico?

Comove-me tanto sentido prático!

Sentido Prático - II

 Após vários telefonemas falhados e duas deslocações, consegui antes de almoço comprar o último comando que o administrador do condomínio conseguira arrebatar, logo pela manhã! E sou uma sortuda!

É que, pasme-se, a empresa que montou o portão para mais de 30 garagens só tinha 4 comandos para entrega! Não há lógica que resista...

Como é que estes empresários farão, para pôr (ou tirar) os carros nas garagens deles, com um portão fechado, e sem comando? Metem-nos no bolso, e vão pelas escadas? Ou tentarão enfiar o veículo no elevador para 4 pessoas?

27 setembro 2006

O Sótão das Regras

 Como os intervalos entre as aulas servem para satisfazer necessidades primárias, defendo que não se come e não se bebe numa aula, nem sequer água, nem sequer pão.


Uma vez que os intervalos dão espaço para brincar e também para tratar do que for necessário, não aceito que um aluno queira fazer durante uma aula o que não teve pressa de fazer antes, quando estava livre (ir à papelaria, ao bar ou à secretaria).

Já que sou responsável pelos meus alunos durante o período em que lhes estou a dar aula, prefiro tê-los ao pé de mim, a bem da segurança deles, e para descanso do meu espírito.


Como uma aula dura 45 minutos ou, no máximo, 90 minutos, não vejo que um aluno precise de ir à casa de banho, a não ser em caso de excepcional emergência.

Partindo do princípio de que nas salas de aula não chove, nem aperta o sol directo, não aceito que os alunos estejam de boné.

Dou por mim a ficar quase isolada a defender estas ideias, pelos vistos antiquadas, rígidas, intolerantes e tão desprovidas de bom-senso que só já ficam bem no sótão, que é o arquivo morto da escola.

De nada me vale argumentar que temos obrigação de educar/formar os nossos alunos, fazendo-lhes sentir a necessidade do cumprimento de regras, de horários, de restrições e de condicionalismos que a sociedade impõe, e que os vão acompanhar ao longo de toda a vida, enquanto cidadãos, no quotidiano, no emprego, na vida social...

Posso estar a ficar velha, mas ainda bem que sou teimosa!

26 setembro 2006

Vitalício da Silva, Funcionário Nacional

 Vitalício da Silva apoiou o cotovelo na secretária, afastou a pilha de processos que mal o deixava ver o colega do lado, deixou descair a testa para a mão e suspirou, cansado de suspirar.


Conheço funcionários públicos que nasceram cansados e que já não sabem fazer outra coisa que não seja descansar depois de não terem feito nada! São as tristes e incompreendidas vítimas do trabalho; tantas vezes se queixaram da dificuldade e dureza das suas funções, que elas próprias já acreditam que é verdade.

Fico podre quando vejo o funcionalismo que picou o ponto às oito, poisou a mala às 8.05, foi à casa de banho às 8.10, viu os mails às 8.15, abriu a gaveta às 8.20, cumprimentou os colegas das outras secções às 8.30, e antes das 10.00 já está na rua, a tomar o pequeno-almoço, porque não é escravo do trabalho.

Conheço um Centro de Saúde onde quem quer cuidados de enfermagem deve tirar uma senha à chegada. Vá lá saber-se porquê, desapareceram muitas senhas, e ficaram apenas números salteados: há o nº1, o 2 e 0 3, depois há o 7, 0 11, o 12 e o 18, a seguir o 21, o 22, e assim sucessivamente.
Todos os dias, por volta das 10.30, a enfermeira se ausenta para tomar o seu pequeno-almoço, muito cansada, porque já atendeu, diz ela, quase 20 pessoas - na realidade tratou 8 ou 9, mas ninguém a desmente, com medo das retaliações! Se vai na senha 20, é porque atendeu 19 pessoas, não é? Merecido pequeno-almoço, ao fim de tantas horas de trabalho tão produtivo!
E o que pode gente fragilizada, envelhecida e pouco escolarizada contra este tipo de comportamento?

Conheço dois jardineiros que levaram 4 dias para tirar meia dúzia de pedras de um canteiro: deleitaram-se com os exercícios de Educação Física dos alunos da escola contígua; fumaram dezenas de cigarros, criaram calo no sovaco, de tanto encosto à enxada, deram ar aos telemóveis, falaram com muitos dos transeuntes e só desataram a limpar pedra quando viram aproximar o encarregado da obra. Aquela pedra não dava para um dia de trabalho, no Luxemburgo! E a "trabalharem" àquele ritmo, aqueles senhores não seguravam o emprego mais do que um dia! Em Portugal, são Vitalícios! Para quê maçadas?

Passo-me completamente quando os oiço cobiçar os níveis salariais dos países da Europa Central e do Norte: eles não vêem que os outros têm de dar ao litro para ganharem o que ganham???
Será que isto vai mudar? Algum dia seremos capazes de arregaçar as mangas e pôr este país a funcionar?

24 setembro 2006

Bendito Comprimido

 De repente, uma revolução na gaveta dos medicamentos, com todos os saquinhos de plástico de pantanas...

- Onde estão aqueles comprimidos encarnados e compridinhos que a médica me receitou há tempos para a dor nas costas e que me fizeram muita bem? Ando com dor nas costas! Viste os comprimidos? Não os encontro... Já desandaram!
- Se estavam fora de prazo...
- Não 'tavam nada fora de prazo! Acabavam em 2007, que eu sei!
- Se calhar, já os tomaste todos...
- Nahhh! 'Inda devia ter uma palete inteira. Deitaste-os fora...
- 'Tou-te a dizer que não deitei...
- 'Tão aqui! Vá lá!... Vês, eu não te dizia!? Inda tenho uma palete inteira. Março de 2007. Eu sabia que 'tavam dentro do prazo.
- Bem te disse que não lhes tinha mexido. Nem sequer os tinha visto. Onde é que 'tavam?
- Ali, dentro do saco...

Copinho de água rápido, e lá vai comprimido goelinha abaixo.

-Vais tomar o comprimido a meio da tarde, sem comeres nada?
- Cheio 'tou eu, não tenho fome. Tenho é dor nas costas; há três dias.

Segue-se leitura da bula, certamente para recordar as boas qualidades dos comprimidos

- Olha, era para deixar derreter na boca ou dissolver em água e eu engoli-o logo... Da outra vez também tomei assim...e fizeram-me bem

Dez minutos depois:
- Já 'tou melhor. Estes comprimidos são bons!... Passar, não passou... não 'tou bom...mas aliviou...

Aos 70 anos, será inevitável esta relação com os medicamentos?

13 setembro 2006

Diário de Plutão - Fragmentos

 Fragmento do Diário de um Estudante de Plutão:


"Quero o meu horário!
Começam as aulas amanhã à noite, e ainda não tenho o meu horário!!! E só o vou ter amanhã à tarde...
Se ao menos os professores já tivessem os deles, sempre dava para ficar com uma ideia... mas nada!
Preciso de tempo para me organizar, e isto assim desorganiza-me!
Quero o meu horário!
Com estes desatinos nem Associações de Pais, nem sindicatos, nem Ministros, ninguém se preocupa, pois não?
Ninguém acha que ando a stressar logo no princípio do ano, sem necessidade, pois não?
Pois não! Eu já calculava!...
... Mas eu só queria o meu horário...
Qualquer dia, fujo para a Terra! Dizem que lá é melhor."

31 agosto 2006

Recado Acelerado

 Vim só dizer que continuo de férias.


Fiz greve aos jornais, o que me deixou na santa paz da ignorância.

A alergia à televisão, que já se vinha a manifestar há algum tempo, atingiu agora o seu ponto alto, e consegui esquecer que ela existe: fiquei sem noticiários de duas horas nem morangos podres à refeição nem coisas indigestas à sobremesa nem serões de ficção pateta.
Imagine-se só o prejuízo que tenho tido!

Não via o meu computador há oito dias, e nem saudades!

Sem sair de Portugal, atraquei numa ilha onde nem sequer há um bar de praia digno desse nome (fica numa cova, entre dunas, sem vista para o mar!...).

Fui muito picada pelos mosquitos, mas estou feliz.

Se não se importam, vou continuar de férias!

Este blogue continua a regressar à 4ª ou à 5ª!

17 agosto 2006

Poupança ou Falta de Ambição?

 Na sessão de Câmara de hoje, o Presidente declarou que o município de Cerromaior nunca realizará uma iniciativa como o Festival de Músicas do Mundo, de Sines, ou a Feira de Grândola, porque isso implica custos elevados para a autarquia.


Quem ouvir este Presidente há-de pensar que os eventos dos outros municípios dão prejuízo,
e que as autarquias vizinhas são umas irresponsáveis desperdiçadoras dos dinheiros públicos.
O Presidente da Câmara esquece-se é que os colegas "deram ao litro" e procuraram parcerias e financiamentos, para reduzir despesas... Ele até sabe que é assim, e também é capaz de calcular o muito trabalho, a ousadia e a vontade e o empenho e a persistência que são necessários para pôr de pé e consolidar este tipo de iniciativas.

Pelos vistos, não conta a projecção que os eventos referidos trazem. Nem as dinâmicas que criam. Nem o número de visitantes que atraem. Nem o prestígio daí resultante.

Com uma gestão assim, como há-de Santiago do Cacém passar da cepa torta?...

16 agosto 2006

Festas do Município/2006 - Santiago do Cacém

 Em Cerromaior, acontece cada uma!


1. A 20 de Julho, o executivo apresentou em sessão de Câmara a estimativa de custos das Festas do Município:
a) Espectáculo com David Fonseca (realizado em 24 de Julho) - 22 385 euros (com PA e IVA);
b) Aluguer de Palco- 9 000 euros;
c) Refeições e Alojamento - 6 000 euros;
d) Segurança - 700 euros;
e) Espectáculos de Teatro - 7 000 euros.

2. Do folheto desdobrável-Programa das festas do Município, distribuído pela Câmara no mês de Julho, apenas consta um espectáculo de teatro (22 de Julho).

3. A 27 de Julho, em sessão de Câmara a oposição questionou o executivo acerca da lógica de tamanha despesa num só concerto, dadas as dificuldades económicas que o município atravessa.
A Vice-Presidente, e Vereadora da Cultura, começou por contestar que a verba fosse de 7 000 contos, mas acabou por reconhecer que, com o aluguer do palco e todas as despesas inerentes, o espectáculo terá rondado os 6 500 contos: "andará por aí" - disse ela (que eu e todos os presentes ouvimos, e há-de constar do registo audio da sessão!).

4. No início de Agosto, o dirigente local do maior partido da oposição tornou público o seu descontentamento face à forma como foram organizadas as Festas do Município, e criticou a despesa realizada, nomeadamente no concerto e numa única representação teatral, conforme consta do programa oficial das comemorações.

5. A 9 de Agosto, o Presidente da Câmara acusou o adversário de mentir.
Afinal, segundo o edil, o concerto terá custado aquilo, mas o palco só terá custado 4 598 euros, as refeições e o alojamento terão ficado pelos 1 000 euros e a Segurança, não mais de 500 euros, segundo ele.
Quanto ao Teatro, o Sr. Presidente da Câmara volta a chamar mentiroso ao dirigente do principal partido da oposição porque, segundo ele, se tratou de 5 representações, que o grupo de teatro "fez", e não de 1, como foi dito.

6. Já em Agosto, a Câmara divulgou de mansinho um cartaz de um programa intitulado "O Teatro vai às Freguesias", onde não consta qualquer referência às Festas do Município, mas sim o calendário de 5 representações teatrais: a 1ª é a tal, que surge também no programa de Festas; a 2ª teve lugar a 4 de Agosto; as 3 restantes foram agendadas para 11, 12 e 18 de Agosto.

Perguntas que eu faço:

- A 20 de Julho a Câmara ainda não sabia quanto ia custar o aluguer do palco no dia 24?

- É normal que uma estimativa de 9 mil euros, feita a 4 dias do evento, desça para cerca de metade?

- Se havia 5 espectáculos de teatro agendados para as Festas do Município, porque é que não constam do documento distribuído aos vereadores, a 20 de Julho?

- Se os espectáculos de teatro estão incluídos nas Festas do Município, porque é que o cartaz que os divulga os apresenta como integrados num Programa distinto, sem qualquer referência às Festas?

- Se os espectáculos não se enquadram nas Festas do Município, porque é que a verba respectiva aparece nas despesas dessas Comemorações?

- Se três dos espectáculos referidos só tiveram lugar depois de 11 de Agosto, como é que o Sr. Presidente da Câmara pôde afirmar, a 9 de Agosto, que a companhia de teatro já "fez cinco espectáculos"?

- Neste processo, quem é que, afinal, mentiu?

O dirigente da oposição, quando se baseou em dados e documentos oficiais fornecidos pela Câmara aos seus vereadores, mas que, ao que parece, eram falsos?

A Vice-Presidente e Vereadora da Cultura, quando aceitou uma discussão que tomou como despesa a própria estimativa, confirmando aproximadamente um valor que, afinal (segundo o Presidente) era falso? A 27 de Julho ela ainda não sabia?

O Presidente da Câmara, que deu como realizados espectáculos que ainda não tinham tido lugar e divulgou pela comunicação social valores que nunca chegaram por via oficial ao conhecimento dos vereadores da oposição?

Não seria mau que o Sr. Presidente da Câmara bebesse uma infusãozinha de valeriana, para lhe acalmar os nervos, já que tem tanta dificuldade em aceitar as críticas da oposição, sobretudo quando (como é o caso) elas deixam a nu práticas e opções culturais e económicas mais do que discutíveis.

Por estas e por outras é que a oposição é o único lugar onde eu quero estar!

09 agosto 2006

Um dia na Ilha da Culatra

 Passei muito bem o meu dia de ontem com o A. e a E., na ilha de que eles são um bocadinho donos, todos os anos.

O casal tem 4 filhos (1 adolescente e 3 crianças), mas naquela casa, não vi ninguém refilar por não ter lugar na mesa dos adultos, não vi birras, nem interrupções de conversas, nem exigências mimadas de atenção.
No início de Agosto, à chegada, aqueles filhos receberam uma mesada para gelados, que têm de gerir até ao fim das férias: cada qual gasta o que quer e quando quer, sabendo que, quando acabar, não há mais! Como a verba não é astronómica, fizeram logo um estudo de mercado, para saberem quem vende os gelados mais baratos da ilha, de modo a gastarem o mínimo possível.
Que bom é conhecer famílias assim, e ver que, afinal, as crianças podem não ser arrogantes, exigentes, consumistas e mal-educadas, porque há pais que não vão na conversa!
Despedi-me dos amigos ao fim da tarde. Voltei feliz.

04 agosto 2006

Maior Sopa do Mundo - Record do Guinness para o Cercal

 Pois é: este record é português, foi batido no ano passado pela Liga de Amigos de Cercal do Alentejo, uma pequena associação cívica, e foi pretexto para angariar fundos para os Bombeiros locais. Sei do que falo, porque fui uma das impulsionadoras da iniciativa.

Com tanto record que há no mundo para bater, os "cabeçudos" da Hotelaria algarvia lembraram-se de bater o nosso, que obviamente já é português.
Com que objectivo? Nenhum! Apenas o de bater o record.
Digam lá se Portugal não é um país de invejosos!
Se ao menos fosse por uma boa causa...

Para entrarem no Guinness terão de arranjar uma tigela maior do que a nossa! Não basta só fazer mais gaspacho! E não serve uma piscina para o atirar lá para dentro!!!
Nestas coisas, o que conta é o que conta:
- arranjámos 2 500 contos para os Bombeiros;
- temos um diploma do Guinness - 4524 litros de sopa na Maior Tigela de Sopa do Mundo.
O resto são intenções!...

26 julho 2006

Consumo e Poupança

 O espectáculo de David Fonseca custou ao bolso dos munícipes de Cerromaior mais de 7000 contos!

7000 contos para ouvir um tipo que tem vergonha de cantar na língua dele textos tão fraquinhos que nem sequer são "dizíveis" em português...
7000 contos para um espectáculo que reproduziu a metro, centímetro e milímetro, o que os CD já debitavam, uma coisa que não é pão nem bolo, nem burro nem feixe de lenha.
Quanto mais ouço estas misérias, mais respeito tenho pelos que insistem em cantar em português, e em português triunfam cá e lá fora! Para os Davides Fonsecas cá do burgo deve ser uma coisa difícil de perceber que Madredeus, Mariza, Dulce Pontes, Amália, tenham conseguido fazer a carreira que fizeram, também a nível internacional, e que Xutos ou Rui Veloso tenham o sucesso que têm...
Ser bacoco não é uma opção, mas (brincando com as palavras), toda a gente devia fazer um esforço para se desviar do coco.

Quanto ao município de Santiago do Cacém, é pena que seja esta a sua forma de encarar a cultura: objecto de consumo massificado, pronto-a-comer, de preferência avulso!

Tesouros

 Reabriu o Tesouro da Colegiada de Santiago, na Igreja Matriz de Cerromaior.

O momento foi assinalado com o lançamento simultâneo do livro "A a Z - Arte Sacra da Diocese de Beja", de José António Falcão, um santiaguense de reconhecido mérito na área da conservação do património histórico e religioso.
De novo se ouviu falar do Museu de Arte Sacra para esta cidade... projecto apenas sonho, por falta de recursos, é certo, mas também por ausência de verdadeira vontade política, como se não se percebesse que a mais-valia cultural de uma região pode ser também a sua oferta museológica.
São opções: quando se gastam 7000 contos avulso num concertito "mastiga e deita fora" não se consegue amealhar para investimentos de vulto.
Como diria um ex-aluno, temos pena!!!...

21 julho 2006

Professores e Férias

 Ontem saí da escola às 20.15, hora a que ficou concluído o processo de encaminhamento das provas do exame nacional que começou às 17.30. Anteontem foi igual, sem ar condicionado, e não me estou a queixar!

Mas irrita-me que me perguntem se já estou de férias, num tom de quem só espera a confirmação da certeza!
Maldita mania de achar que os professores não fazem nada a partir do momento em que acabam as aulas!...

20 julho 2006

Excessos

 Quando oiço clamar que não há condições para trabalhar nas repartições públicas porque falta ar condicionado, dá-me vontade de rir...

Quando o assunto merece honras de noticiário na TV dá-me vontade de gritar!
Como é que se vivia, quando não havia ar condicionado? E como é que vive quem não tem dinheiro para o comprar? E como é que trabalha quem é obrigado a andar na rua, ao calor?
São estas coisas de país miserável, mas novo rico, que me deixam a assobiar...

19 julho 2006

Festas de Santa Maria/2006 - Ermidas-Sado

 Julgar que Campo Maior é a única terra onde de vez em quando as ruas ficam floridas, é ainda não ter ouvido falar de Ermidas-Sado.


Esta vila do litoral alentejano faz florir regularmente (de dois em dois anos) as suas ruas e o seu largo principal. Este ano será de 11 a 15 de Agosto.

Numa visita guiada pelos vários ateliers espalhados pela vila, a convite da Comissão de Festas, tive o privilégio de penetrar no muito bem guardado segredo de criação das diferentes decorações das ruas.

Há um belíssimo trabalho manual, imenso, minucioso e dedicado, por parte da população ermidense, na criação, em papel, dos motivos florais que hão-de preencher as ruas da vila.

Os homens, mulheres e jovens que encontrei a trabalhar bem podem sentir orgulho de si próprios e do colectivo a que pertencem.

Pelo que vi, Ermidas vai estar deslumbrante!

Dia 11 lá estarei!

17 julho 2006

Alma Cheia

 Tenho a alma cheia do reencontro com tantos colegas de curso.

Já cá cantam 22 jantares anuais!
Todos estamos pelo menos quarentões; temos filhos, alguns netos e cabelos brancos mais ou menos disfarçados.
Seguimos rotas separadas ou trilhos semelhantes, espalhados por este país ou por outros, mas quando ficamos juntos, neste mês de Julho, uma vez por ano, somos outra vez cúmplices, como se tivesse sido ontem...

O que nos uniu? O que nos une, ainda, passado tanto tempo?

- As noites inteiras passadas à porta da Faculdade, para inscrições no início de cada ano lectivo;
- Um espírito livre, de malta que gostava descontraidamente do que andava a estudar!
- Um princípio básico de solidariedade, em que nos reuníamos muitos para fazermos juntos os diferentes trabalhos em grupo e nos entretínhamos a dar sugestões uns aos outros e a compartilhar as "tiradas" que nos iam saindo.
- Um companheirismo que se estava nas tintas para a competição, e em que cada um fazia o melhor que podia, sem passar por cima de ninguém.
- A partilha de horas e horas de trabalho e de divertimento: idas colectivas ao cinema, directas laborais em casa de uns e de outros, tardes de tagarelice na relva, manhãs de mergulho nos livros, refeições delirantes na cantina, distribuição metódica de tarefas de leitura ou grandes jogatinas de dados... e etc e tal...
- O privilégio de termos sido alunos de grandes mestres: David Mourão Ferreira, Mário Dionísio, Lindley Cintra, Urbano Tavares Rodrigues, Maria de Lourdes Cortez, Maria Alzira Seixo, Maria Helena Mateus, Ivo de Castro, Maria de Lurdes Belchior...
- A memória de um quotidiano chorado ou rido, sofrido ou cantado, a multiplicar por uns trinta mânfios que foram criando laços que se entrelaçaram com outros laços.

Eram demasiadas coisas em comum para que nos separássemos para sempre, no final do curso.
Este nosso encontro anual resiste às vicissitudes individuais, aos acidentes de percurso e às complicações existenciais porque o que vivemos foi demasiado bom para ser esquecido. Falhando um ou outro, um ano aqui outro ali, Julho é sempre de 1980 a 1984!

Nós, que rejeitámos praxes, trajes académicos, queimas de fitas e toda a panóplia de iniciativas com que hoje se mascara e embriaga um suposto espírito estudantil que já quase ninguém sabe o que é, nós que não quisemos rituais, mantemos religiosamente o nosso ritual.
Para o ano há mais, malta!

16 julho 2006

Pedinchões e Mãos-Largas

 Quando era pequena, a minha mãe dizia-me:

- Se quiseres, vais comigo à mercearia, mas não me pedes nada. Se pedires, já sabes que a mãe não compra!
Ia, e vinha de lá quase sempre toda contente, porque ganhava uma sombrinha de chocolate ou uns caramelos "de vaquinha", como prémio por não ter pedido nada. Das vezes em que pedi, vim de mãos a abanar.

Quando me sento numa esplanada e vejo as crianças atafulharem-se de guloseimas e gelados e mais guloseimas umas atrás das outras, e os adultos a largar dinheiro, só para serem deixados em paz, e as crianças a exigir mais, a birrar, e os adultos a abrir outra vez a carteira, fico PODRE e sai-me o assobio pelos cabelos.

15 julho 2006

Super-Portuga

 O Portuga é o maior!

A praia e o sol são para aproveitar de manhã à noite!

Que conversa é essa de ir só de manhãzinha ou ao fim da tarde?

Desde miúdo que o Portuga passa o dia na praia.

Antigamente, ia a família toda, farnel para o dia inteiro, fogareiro e sardinhada, febras e garrafão, mais melancia ou melão e um baralho de cartas para entreter.

Depois, a família envergonhou-se, foi expulsa pelos turistas, transformou-se, passou a fazer a sardinhada no pinhal.

Um dia o pinhal foi abaixo, devorado pelo progresso e pela construção.

A família passou a ficar em casa, mas o Portuga, jovem ou adulto, continuou a cultivar o hábito:


Praia a sério é para esturricar o lombo ao sol!

Quem não ficar encarnado nos primeiros dias e castanho escuro numa semana não é homem (ou mulher) não é nada! Quem é que morre com um escaldão? Até enrija!

Chapéu-de-sol é uma pirosada!

Boné na cabeça para quê?!

Protector solar é para os branquinhos e os estrangeiros!

Recomendações dos médicos são mariquices!

Cremes é um negócio para as farmácias!


Infelizmente, cancro de pele é para qualquer um, mas o Portuga ficou em 4º lugar no Mundial de Futebol, por isso não é qualquer um...

Super-Portuga

 O Portuga é o maior!

A praia e o sol são para aproveitar de manhã à noite!
Que conversa é essa de ir só de manhãzinha ou ao fim da tarde?
Desde miúdo que o Portuga passa o dia na praia.
Antigamente, ia a família toda, farnel para o dia inteiro, fogareiro e sardinhada, febras e garrafão, mais melancia ou melão e um baralho de cartas para entreter.
Depois, a família envergonhou-se, foi expulsa pelos turistas, transformou-se, passou a fazer a sardinhada no pinhal.
Um dia o pinhal foi abaixo, devorado pelo progresso e pela construção.
A família passou a ficar em casa, mas o Portuga, jovem ou adulto, continuou a cultivar o hábito:

Praia a sério é para esturricar o lombo ao sol!
Quem não ficar encarnado nos primeiros dias e castanho escuro numa semana não é homem (ou mulher) não é nada! Quem é que morre com um escaldão? Até enrija!
Chapéu-de-sol é uma pirosada!
Boné na cabeça para quê?!
Protector solar é para os branquinhos e os estrangeiros!
Recomendações dos médicos são mariquices!
Cremes é um negócio para as farmácias!

Infelizmente, cancro de pele é para qualquer um, mas o Portuga ficou em 4º lugar no Mundial de Futebol, por isso não é qualquer um...