RESTAURANTES, CRIANÇAS E CÃES
À pala do caso Madeleine e do Miguel Sousa Tavares, anda-se a discutir se as crianças devem ir ao restaurante.
Quem não deve ir ao restaurante são alguns dos pais delas, que não sabem educá-las, e não sabem - eles próprios - respeitar o direito a uma refeição em paz (para si e, claro!, para os outros).
Os frequentadores de restaurantes sabem que encontram lá de tudo, desde o miúdo normal, bem comportado, que come o que tem a comer, fica no seu canto a brincar com a sua tralha e não chateia ninguém, ao puto insuportavelmente metediço, que come mal, chafurda muito, não gosta de nada, interrompe constantemente as conversas dos adultos, faz dez birras, e acaba a noite a correr impunemente à volta das outras mesas, gritando e estrebuchando, enquanto os pais respiram de alívio por ele ter, finalmente, dado tréguas à família! Tudo isto o proprietário, o gerente e os empregados vêem, de sorrriso amarelo, contrariados mas acanhados, calados, sabe-se lá porquê.
Não compreendo por que razão a sociedade há-de ser tolerante com esta falta de civismo dos adultos! A culpa não é das crianças!
Perante esta realidade, fico sempre contrariada quando em Portugal não deixam o meu mini-cão entrar num restaurante. Tendo crescido num país onde os animais não são escorraçados pela hotelaria, o tipo foi habituado desde miúdo a ir "comer fora" com frequência; está vacinado como manda a lei, toma banho regularmente, entra no restaurante com rédea curta, todo direitinho sem se meter com ninguém, deita-se debaixo da mesa, e fica lá sossegado e calado desde que eu me sento até que me levanto, para sairmos. Se não tivéssemos de entrar e sair, ninguém saberia que ele lá tinha estado, tal é a sua discrição. Acontece até que, às vezes, ele é que é incomodado precisamente por crianças traquinas que, depois de o descobrirem debaixo da mesa, nunca mais o querem deixar em paz, nem a ele, nem a mim!
É claro que o meu cão não é melhor nem pior do que as outras crianças: é apenas um cão bem-educado, de que muito me orgulho, e que, apesar de irracional, não me deixa ficar mal!
É verdade que não entra na maior parte dos restaurantes portugueses, mas paciência!, se calhar eles têm os clientes que merecem!